O Ministério Público Federal levantou indícios de que a suposta tentativa de fuga do empresário Jacob Barata Filho começou a ser preparada dez dias antes de sua prisão. Ele foi detido no dia 2 de julho quando embarcava para Portugal. Os procuradores identificaram trocas de e-mails, telefonemas e atos que indicam preparativos para a saída do país ao menos desde o dia 23 de junho.

O empresário cumpre prisão domiciliar após ser beneficiado por um habeas corpus concedido pelo ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Ele considerou que a apreensão de seu passaporte é o suficiente para evitar o eventual sumiço de Barata Filho.

Ao ser preso, o empresário estava com um ofício da 7ª Vara Federal Criminal determinando a quebra de sigilo de investigados pela Operação Ponto Final. O vazamento do documento antecipou a deflagração da Operação Ponto Final contra a cúpula do empresariado do setor de transporte.

O papel encontrado com ele havia sido enviado no dia 21 de junho para Caruana Financeira, instituição que concede empréstimos para o setor de transporte. A empresa recebeu oficialmente a comunicação no dia 23.

No mesmo dia 21, a agenda de Barata Filho indica um almoço com o presidente da Caruana, José Garcia Netto. Embora naquela data a empresa ainda não tivesse sido oficialmente comunicada sobre a quebra de sigilo, procuradores consideram que o encontro mostra que os dois mantinham contato direto.

No dia 23, data em que a instituição financeira recebe ofício da 7ª Vara, a secretária de Barata Filho convoca por e-mail uma reunião extraordinária da Fetranspor, federação das empresas de ônibus.

No encontro, marcado para o dia 28 de junho, o então presidente da entidade, Lélis Teixeira, renuncia ao cargo. No dia seguinte, ele também deixa o comando da Rio Ônibus, sindicato das empresas da capital. O executivo também seria preso na operação.

No dia 29, a agência de viagem responsável por adquirir passagem para a família Barata compra as passagens para Portugal. O e-mail faz referência a passagens “só ida”, embora tenha ocorrido emissão de retorno para o dia 12 de julho com milhagem.

Telefonemas interceptados pela Polícia Federal indicam uma intensa movimentação do empresário com suas funcionárias. No domingo, dia do embarque para Portugal, Barata Filho pede para que uma de suas secretárias vá à sede de sua empresa buscar “umas coisas” com ele.

À tarde, logo após deixar a empresa, ele recebe uma ligação da mesma funcionária perguntando: “Jacozinho… é… Esses computadores”. “Não tem problema”, responde ele.

Horas depois, a PF interceptou uma conversa com a filha, Beatriz, que afirma estar “nervosa”. “Com o quê”, pergunta o empresário. “Com tudo”, diz ela.

Barata Filho é acusado de integrar uma organização criminosa com outros empresários do setor que distribuiu cerca de R$ 500 milhões de propina a agentes públicos entre 2010 e 2016.

OUTRO LADO

A defesa do empresário Jacob Barata Filho afirmou em nota que os fatos que antecederam sua viagem a Portugal “não autoriza a história fantasiosa sobre uma tentativa de fuga que nunca existiu”.

“O fato de Jacob Barata Filho ter tomado conhecimento do ofício não influenciou o cumprimento da ordem judicial e nem interferiu na sua efetividade. Além disso, conforme esclarecido, Jacob Barata Filho tomou conhecimento do ofício de forma regular”, diz a nota.

Em depoimento à Polícia Federal, o empresário afirmou que soube da quebra de sigilo bancário e fiscal por meio do banco Guanabara, do qual é sócio. Contudo, o ofício que levava fora enviado à Caruana Financeira.

A defesa do empresário declara ainda que “a viagem quase dez dias depois e com datas de ida e de volta”. As passagens foram adquiridas no dia 29, seis dias após a data de recebimento do ofício pela Caruana.

Barata Filho disse ainda que a conversa com sua filha Beatriz “não tem qualquer relação com a investigação”.

O advogado Luiz Augusto Sartori de Castro afirmou, em nome de José Garcia Netto, sócio da Caruana, que a conduta do executivo “sempre foi pautada pela ética, transparência e em atenção a mais absoluta legalidade, razão pela qual, se encontra à disposição para prestar todos os esclarecimentos que se fizerem necessários”. Ele afirmou não ter conhecimento sobre as investigações em curso.

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