Número 1 do país, brasileira correu risco até de ficar sem andar após tombo feio, mas seguiu lutando e chega a Roland Garros como cabeça de chave 3 no qualifying

Acaso é uma palavra que não existe no vocabulário de Beatriz Haddad Maia. Aos 20 anos, a número 1 do país já levou dois tombos, literalmente, na carreira. Primeiro, precisou passar por uma cirurgia delicada na coluna, em 2013, e correu risco de ficar sem andar. Nem por isso deixou de sorrir. Desistir não era uma opção. Após um tempo, seguiu em frente e voltou a jogar. Outro susto aconteceu recentemente. Bia tropeçou em casa, fraturou três vértebras e precisou adiar o início da temporada. Mas manteve-se positiva. Afinal, tinha colocado na cabeça que 2017 era seu ano.

– Agora eu dou risada. É a vida (risos). Brincadeira, eu sempre agradeço muito tudo o que passo na vida, momentos ruins e bons porque eles passam rápido. Cada vez mais, procuro curtir cada momento dentro e fora da quadra. A vida é muito mais do que apenas um esporte, uma facilidade, ou seja o que for. Levo isso comigo mais uma sempre fazendo meu melhor, a cada dia, com sorriso no rosto – afirmou a tenista em entrevista ao GloboEsporte.com.

Bia Haddad Maia na final do ITF US$ 100 mil de Cagnes-Sur-Mer (Foto: Divulgação)

Bia Haddad Maia na final do ITF US$ 100 mil de Cagnes-Sur-Mer (Foto: Divulgação)

De volta às quadras no final de fevereiro, Bia foi para a Austrália disputar torneios menores. Precisava recuperar a confiança e o ritmo de jogo. Voltou de lá com o título do ITF U$S 25 mil de Claire. Em Miami, teve o maior desafio de sua carreira até então. Enfrentou a ex-número 1 do mundo Venus Williams na Quadra Central do torneio. Saiu de quadra sem a vitória, mas com um “gostinho de quero mais”, em suas palavras.

– Sempre penso que nada é por acaso. Cada dia venho trabalhando firme e focada sempre no meu melhor. Comecei a trabalhar com o German, que é um treinador argentino, e ele está me ensinando muito. Tive uma evolução física muito grande de um ano para cá com o preparador Alex Matoso, da Tennis Route. Em relação a cabeça, estou procurando sempre jogar mais tranquila, intensa e mais feliz – contou.

Desde 1975, apenas sete tenistas brasileiras haviam conseguido atingir o top 100: Maria Esther Bueno, Niege Dias, Claudia Monteiro, Patricia Medrado, Gisele Miró, Andrea Vieira e Teliana Pereira. Bia se juntou a esse seleto grupo na semana passada, com o título no ITF U$S 100 mil de Cagnes-Sur-Mer, o maior de sua carreira, e a 100ª posição no ranking da WTA. Atualmente, ela está em 61º lugar no ranking considerando apenas resultados deste ano.

Bia Haddad Maia no WTA de Praga (Foto: Divulgação)

Bia Haddad Maia no WTA de Praga (Foto: Divulgação)

A brasileira se destacou desde cedo. Aos 14 anos, quase venceu a paulista Andrea Vieira, ex-número 76 do mundo. Naquele momento, “Dadá” já percebia que a então menina iria longe.

– Eu tinha 39 e a Bia 14 e jogamos um Interclubes contra. Ela teve match-point, acabei ganhando no super tie-break, mas ali já dava para perceber que ela era uma jogadora que tinha tudo, golpe, força. A bagagem dela é muito grande, morou sozinha, treinou com Larri, Bocão, IMG envolvida. Ela está no caminho certo – disse.

Assim como Bia, Andrea Vieira chegou ao top 100 bem jovem. Aos 18 anos, ela furou o quali e atingiu a terceira rodada de Roland Garros em 1989. Semanas antes, havia vencido a número 5 do mundo Helena Sukova no WTA de Hamburgo.

– Tudo muda bastante. Você quer chegar de qualquer jeito ao top 100. Depois que chega lá, tem muitos pontos para defender. Passei pela mesma coisa. Fui bem em Hamburgo, ganhei da Sukova, passei o quali como cabeça 1. Ela está confiante, super bem. É muito nova e terá vários anos para jogar Roland Garros. Com toda essa confiança, a tendência é que ela fure e vá com muita moral para a chave – afirmou Vieira, que vê na jovem brasileira potencial para top 40.

Bia Maia antes da estreia em Roland Garros 2017 (Foto: Divulgação)

Bia Maia antes da estreia em Roland Garros 2017 (Foto: Divulgação)

Quatro quilos mais magra e com novo treinador, Bia vive a melhor temporada da carreira. Canhota de 1,85m, a número 1 do país possui como principal arma o saque e o forehand. Ela tenta manter a boa fase no quali de Roland Garros, onde é a cabeça de chave 3. A estreia será nesta terça-feira contra a espanhola Silvia Soler-Espinosa, número 146 do mundo.

– Estou ansiosa, claro. Vou entrar na quadra como em todos outros torneios. Mas claro, Grand Slam tem um gostinho diferente, é sempre especial. Sinto que venho evoluindo bastante e que posso entrar na quadra para jogar contra qualquer uma. O importante é saber que eu tenho que fazer em quadra. Sou grande, tenho pegada e por isso não depende muito do jogo da adversária. Tenho que me preocupar com o meu mesmo – contou.

Bia Maia é a 61ª colocada no ranking do ano. Ela recebeu um apoio financeiro da Federação Internacional de Tênis destinado a jogadores promissores de países com pouca tradição na modalidade no valor de R$ 160 mil reais. Tenistas como Guga, Azarenka e Na Li também já foram beneficiados pelo incentivo oferecido pela ITF.

Fonte: G1

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