Em reunião nesta quarta-feira (14) com representantes de entidades de delegados e agentes, o diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, fez um mea culpa sobre as declarações que concedeu à agência Reuters a respeito do inquérito que investiga o presidente Michel Temer. Ele também concordou que deve se abster de novas declarações à imprensa sobre casos em andamento.

No encontro com os delegados, Segovia demonstrou que se arrependeu de ter feito comentários sobre inquérito que trata do presidente, que ainda está em andamento na PF e no STF (Supremo Tribunal Federal). Na entrevista à Reuters, divulgada na última sexta-feira (9), o diretor-geral disse que as provas coletadas até aqui são frágeis e indicou que o destino próximo do inquérito será um pedido de arquivamento.

“Ele se arrepende de ter seguido por determinados caminhos, de falar da investigação sobre o presidente. Falar em entrevista sempre é muito difícil. E ele está abalado, abatido, com a repercussão toda que houve, mas deixa claro que houve uma certa distorção em relação ao que ele disse e que não houve nem haverá nenhum tipo de intervenção nem interferência nem pressão em cima dos investigadores”, afirmou o presidente da ADPF (Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal), Edvandir Paiva.

No encontro, mais cedo, com o presidente da Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais), Luís Boudens, o diretor-geral reconheceu que teria sido “espontâneo demais” ao falar do inquérito e concordou com a sugestão de não dar mais declarações sobre investigações que estão em andamento no órgão, além de ter “mais prudência” em futuras entrevistas.

O encontro com os delegados foi marcado por Segovia e durou cerca de uma hora com a direção executiva da ADPF e com a presidente da Fenadepol (Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal), Viviana da Rosa. Ao final do encontro, a PF preferiu não se manifestar sobre o encontro e informou que Segovia só falará sobre o assunto ao ministro do STF, Luís Barroso, na próxima segunda-feira (19).

Segundo Edvandir Paiva, que foi escolhido pelos outros delegados como “porta-voz” da reunião, Segovia relatou que a entrevista concedida à Reuters tratou quase todo o tempo sobre outro assunto, convênios e entendimentos que a Polícia Federal tem feito com autoridades do FBI, que exerce nos Estados Unidos papel semelhante ao da PF. No final de janeiro, Segovia viajou a Washington para tratar de assuntos variados como pornografia infantil e fake news.

A intenção da entrevista, segundo o diretor-geral, era gerar uma agenda positiva para a PF. Mas quase no final da entrevista, segundo Segovia, a Reuters levantou o tema do inquérito que investiga o suposto pagamento de vantagens indevidas em torno da edição, em 2017, de um decreto presidencial sobre o setor portuário.

Quando os delegados indicaram a Segovia a necessidade de ele ser mais comedido nas manifestações à imprensa, o diretor-geral concordou com a sugestão de que deve submergir no noticiário, evitando novas entrevistas.

Para o delegado Edvandir Paiva, o ponto mais importante da conversa foi Segovia reafirmar que “não interferiu nem vai interferir” em investigações da PF. Mas Paiva reconhece que o quadro de “mal-estar” continua na corporação.

“Essa palavra de garantir isso para a gente é importante mas o mal-estar ainda não está superado e a gente vai continuar acompanhando essas manifestações dele ao Judiciário e também no dia a dia. Acompanhando e seguindo para que não haja nenhum tipo mesmo de pressão nem de interferência e a Polícia Federal continue fazendo o trabalho que a sociedade admira”, disse Paiva.

“Foi uma reunião para ouvir do diretor-geral sobre o que ocorreu e a gente ouviu. Agora vamos esperar os próximos passos, a manifestação dele perante o Judiciário. Espero que a gente consiga ter um desfecho tranquilo e que a credibilidade da Polícia Federal se mantenha intacta”, disse o presidente da ADPF.

 

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