Um levantamento recente revelou que cinco instituições financeiras e dez sistemas de pagamento estão possibilitando a operação de 2.645 sites ilegais de apostas no Brasil. Todas essas plataformas estão fora das listas do Ministério da Fazenda, que autoriza empresas a operar até o final de 2024, além de estarem entre os portais bloqueados pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) após solicitações do governo.

A Celcoin é a instituição que mais aparece, com 1.075 sites associados. Em seguida, estão a Voluti (835 sites), Fitbank (362), Microcash (224) e Iugu (146). Todas essas empresas se definem como startups de finanças, oferecendo serviços financeiros, mas não são classificadas como instituições bancárias devido às rigorosas regras do Banco Central.

Enquanto Voluti, Microcash e Fitbank afirmaram que não operam diretamente com sites de apostas, mas sim com sistemas de pagamento contratados por essas plataformas, todas as cinco companhias garantiram seguir as normas do governo federal. Após a publicação da lista com mais de 2 mil sites proibidos pelo Ministério da Fazenda, elas se comprometeram a contatar seus parceiros para interromper relações com as plataformas listadas.

No último dia 31, o Ministério da Fazenda enviou à Anatel uma nova lista com 1.443 domínios de apostas sem autorização para serem bloqueados. Até o fechamento desta reportagem, os sites analisados ainda estavam ativos.

Os dez sistemas mais citados como intermediários para apostas ilegais incluem Ako Pago (292), Onepay (268), Zam Pago (266), ABC Tech (205), Golden Pig (198), Luckgame (177), HKPay (159), Zalka (138), Logame do Brasil (125) e New Pay (116). Dentre eles, oito têm menos de cinco meses de existência, enquanto Onepay e New Pay são as exceções. Nenhum dos sistemas de pagamento respondeu aos questionamentos da reportagem.

O percurso do dinheiro entre apostadores e as empresas de apostas é complexo e envolve várias entidades além das próprias bets, como desenvolvedores de jogos e plataformas de hospedagem. Os sistemas de pagamento atuam como intermediários entre as instituições financeiras e os sites de apostas.

O levantamento foi realizado pela Abrajogo (Associação Brasileira dos Operadores e Provedores Internacionais de Jogos) e baseou-se em publicações nas redes sociais que divulgavam os domínios na internet. A partir disso, foram simuladas transferências para identificar os bancos envolvidos e os arranjos de pagamento utilizados.

Além das cinco instituições financeiras identificadas, outras 19 também operam com apostas ilegais em menor escala. Um monitoramento contínuo da rede está sendo feito para detectar novos casos. O Ministério da Fazenda não respondeu aos questionamentos sobre a situação atual.

Para as associações do setor, é crucial atacar a infraestrutura financeira que permite a lucratividade dos sites ilegais no Brasil. André Lins, diretor jurídico da Adeja (Associação em Defesa dos Jogos e Apostas), enfatizou: “A parte financeira é a única forma de materializar a atividade delas no Brasil. O sistema pode estar fora do país, mas para receber o dinheiro precisam das instituições locais”.

Lins ainda destacou que a divisão entre instituições financeiras e sistemas de pagamento serve para terceirizar responsabilidades: “Eles criam esses mecanismos para evitar penalizações diretas”.

Witoldo Hendrich Junior, presidente da Abrajogo, apontou três frentes essenciais no combate aos sites ilegais: “Primeiro, atacar os pagamentos; depois, a mídia que divulga esses sites; por último, o domínio na internet”. Ele ressaltou que derrubar um site ilegal é uma medida menos efetiva, pois em poucos minutos um novo domínio pode ser criado.