No terceiro ano do doutorado na Universidade de Michigan, Pedro, um brasileiro de 30 anos, deveria estar se preparando para a qualificação de sua tese e para o trabalho de campo. Em vez disso, ele se vê em uma situação alarmante, precavendo-se contra a possibilidade de ser detido e deportado pelo governo americano.

Apesar de estar no país legalmente com visto de estudante e não ter cometido nenhum crime, Pedro prefere não revelar seu nome verdadeiro devido à sua participação nos protestos pró-Palestina em seu campus—uma ação que agora o coloca em risco.

Recentemente, autoridades americanas detiveram estudantes como o palestino Mahmoud Khalil, da Universidade Columbia, e o indiano Badar Khan Suri, da Universidade Georgetown. Na terça-feira (25), a estudante turca Rumeysa Ozturk foi abordada pelo serviço de imigração perto de sua casa e presa. Embora ela não fosse uma líder do movimento, seu envolvimento ao escrever sobre a questão no jornal da Universidade Tufts foi suficiente para chamar a atenção das autoridades.

O governo do ex-presidente Donald Trump tem pressionado as universidades para que contenham os protestos pró-Palestina, enquadrando críticas a Israel como antissemitismo. Como resultado, instituições como Columbia perderam US$ 400 milhões em financiamento até que se adequassem às novas medidas.

No campus da Columbia, Rafael, um brasileiro de 29 anos e ex-colega de mestrado de Khalil, descreve um clima de pânico. Como Pedro, ele também opta por não divulgar seu nome verdadeiro. Rafael relata que muitos alunos estão adotando medidas cautelares, como manter perfis anônimos nas redes sociais e evitar discussões sobre diversidade por medo de serem monitorados.

Ele compartilha que recebeu uma ligação suspeita do ICE (Serviço de Imigração e Controle de Alfândega dos EUA), alegando que um pacote ilegal estava sendo rastreado em seu nome. Embora acredite que tenha sido um trote, diversos colegas têm recebido ligações semelhantes, intensificando o clima de medo entre os estudantes.

Em meio a essa atmosfera hostil, universidades começaram a alertar seus alunos estrangeiros sobre o risco real de serem impedidos de voltar ao país caso decidam viajar para o exterior. Panfletos com instruções sobre como agir em casos de detenção estão sendo distribuídos nas instituições. Pedro já consultou uma advogada especializada em imigração para delinear um plano.

Dentro dos campi, a discussão sobre a necessidade de os alunos que são pais concederem a guarda dos filhos a pessoas confiáveis tem se intensificado. Essa é uma medida preventiva que muitos imigrantes brasileiros estão adotando.

A impossibilidade de deixar o país impacta diretamente as carreiras acadêmicas desses estudantes, já que muitos precisam realizar pesquisas prolongadas no exterior. Recentemente, o secretário de Estado Marco Rubio anunciou o cancelamento dos vistos de cerca de 300 manifestantes, rotulando-os como “lunáticos”. A justificativa do governo é que qualquer apoio a organizações consideradas terroristas—como o Hamas—pode representar um risco à segurança nacional dos EUA.

Esse cenário alarmante revela como as tensões políticas podem afetar vidas e carreiras acadêmicas em um ambiente que deveria ser dedicado à busca pelo conhecimento e à diversidade cultural.