A feira acontecerá de 08 a 10 de junho, na Praça da Piedade, no Centro de Salvador

“A luta pela terra é sinônimo de resistência, cultura e alimentação saudável”. Felipe Campelo (45) chegou a essa síntese a partir dos seus 17 anos de vivência dentro do MST e de sua doação acadêmica e política.
Formado em engenharia agronômica, Campelo atualmente reside no Assentamento Bela Manhã, em Teixeira de Freitas, no Extremo Sul da Bahia, e contribui com o setor de produção do Movimento e com a Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto.
Ao falar sobre a 3º Feira Estadual da Reforma Agrária, que acontecerá de 08 a 10 de junho, na Praça da Piedade, no Centro de Salvador, ele nos conta que as Feiras realizadas pelas famílias Sem Terra, sejam assentadas ou acampadas, possuem a tarefa de dialogar com a sociedade sobre o projeto de vida que queremos para o campo brasileiro.
“Estamos falando de um projeto que emancipa e que garante desenvolvimento para o campo e para cidade. Todos estão ganhando nesse processo. O Trabalhador Sem Terra, que está produzindo, e o Trabalhador da cidade, que está consumindo. Esse ciclo nos dá suporte político para falarmos de soberania alimentar”, explica.
Nesse sentido, destaca que o modo de produção agroecológico é um instrumento de luta e a prova viva, que o agronegócio não produz alimentos, mas sim, veneno.

 

Leia a entrevista na íntegra:

O que será a 3º Feira Estadual da Reforma Agrária?
A Feira Estadual é uma radiografia do que acontece nos assentamentos e acampamentos de Reforma Agrária, nas regiões do nosso Estado e de todo Brasil. Com a Feira poderemos mostrar que além de produtos de qualidade nós temos diversidade, ou seja, temos uma imensa variedade de alimentos para quem for visitar.
Essa diversificação permite que a população possa se alimentar com qualidade e essa qualidade, a que me refiro, é livre de veneno, pois se temos diversidade de alimentos produzidos com agrotóxicos de nada nos adianta.
Qual é a tarefa política que o MST cumpre ao realizar esse espaço?
Dialogar com a sociedade, apresentando os frutos da luta pela terra.
Acerca de três ou quatro décadas teve uma inversão da população rural e urbana. Isso foi fruto de uma política de desenvolvimento, que infelizmente ainda se pensa o campo como o território único e exclusivo do agronegócio. Isso vem garantindo, a ampliação dos grandes latifúndios, voltados à produção de monocultura para exportação e com irresponsabilidade ambiental. Nessa inversão, o camponês, é invisibilizado e marginalizado socialmente e institucionalmente.
O que a terra simboliza para esse camponês?
A terra é vida. Portanto, a Feira serve também como um instrumento de diálogo prático da luta. Essa luta se traduz com seus produtos, como a banana, a macaxeira, os doces, as hortaliças.
Plantar, cuidar e colher. Existe um ciclo na produção de alimentos. Como você visualiza a relação do camponês com as sementes?
Os camponeses são circulares, ou seja, possuem a característica de trocar as sementes, sendo os guardiões das sementes crioulas, que é um patrimônio da humanidade.
Com os camponeses existem variedades de sementes, que dão vida a essa diversidade, garantindo inclusive, a nossa capacidade de permanecer como grandes produtores de alimentos saudáveis para a população sem o uso de agrotóxicos.
Fale um pouco sobre a relação entre o camponês e a soberania alimentar.
Os camponeses trazem em si a capacidade de garantir a soberania alimentar. A nossa produção diversificada voltada para o mercado local permite que a população possa escolher com o que se alimentar. Lhes oferecendo uma alternativa diante dos produtos industrializados, com conservantes químicos, que chegam nas prateleiras.
Temos em nossa essência a valorização da vida. É de grande satisfação levar ao povo da cidade alimentos saudáveis, produzidos em harmonia com a natureza, que também é um alicerce da soberania alimentar. Estamos falando de um projeto que emancipa e que garante desenvolvimento para o campo e para cidade. Todos estão ganhando nesse processo. O trabalhador Sem Terra, que está produzindo, e o trabalhador da cidade, que está consumindo. Esse ciclo nos dá suporte político para falarmos de soberania alimentar.

Fonte: Voz do movimento

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