Quase dez horas de reunião em Brasília, a cúpula do PT não conseguiu acordo nesta sexta-feira (30) para elaborar um texto que sirva de base para os novos rumos do partido. Diante do impasse, que acirrou ânimos e causou divergências além das habituais entre petistas, as correntes da sigla devem se reunir mais uma vez na manhã deste sábado (1) para tentar fechar um documento consensual de avaliação do cenário político e as novas estratégias de oposição a Jair Bolsonaro (PSL).

Segundo relatos de dirigentes, o texto preliminar, elaborado por uma comissão de nove petistas egressos das diferentes forças partidárias, não foi aceito pelas correntes CNB (Construindo um Novo Brasil), majoritária, e Movimento PT. As duas alas, com representantes no grupo que escreveu o documento inicial, decidiram produzir novos textos, o que gerou desconforto entre os demais correligionários. Geralmente, o texto base é elaborado por um grupo do comando petista e distribuído para os integrantes do Diretório Nacional da legenda às vésperas da reunião, para que os grupos possam sugerir alterações até o dia do encontro.

Nesta sexta, porém, o texto preliminar, que trazia críticas à política econômica do segundo governo de Dilma Rousseff, causou incômodo em integrantes da sigla -e a própria ex-presidente precisou fazer uma defesa pública de sua gestão. Já no final do dia, levantou-se uma proposta para que os três textos fossem colocados em votação -o da comissão, o da CNB e o do Movimento PT-, e o vencedor serviria de base para as modificações. Mas a ideia foi rechaçada pelas demais correntes.
A avaliação é que deslegitimar a comissão abriria um precedente ruim no partido.

As duas correntes que querem apresentar o texto alternativo ficaram de unificar suas redações e divulgar, na manhã deste sábado, um novo documento.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, as principais divergências eram sobre a autocrítica em relação ao governo Dilma. A ideia era restringir o discurso do partido à avaliação eleitoral e ao papel como oposição a Bolsonaro, mas nem todos concordavam. Presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), chegou a minimizar o impasse e dizer que o texto da comissão era “muito longo” porque abarcava “diversos temas”.

Queremos um texto que se situe mais na avaliação do processo eleitoral e nas características do governo Bolsonaro e na nossa posição, no que vamos fazer. Não queremos um texto que analise os governos anteriores”, afirmou a jornalistas antes do fim da reunião. O comando da legenda tem sido cobrado por correntes mais à esquerda e também por aliados a fazer uma autocrítica alentada sobre os erros dos últimos anos, mas resiste em executá-la de forma pública.

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