O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) revelou a aliados mais próximos que está disposto a abrir mão de sua candidatura à reeleição na Câmara dos Deputados para integrar o governo Lula (PT) até o final de 2026, caso seja convidado pelo presidente.

Durante essas conversas, Boulos enfatizou que sua prioridade é trabalhar pela reeleição de Lula. Apesar de ter obtido uma votação expressiva em 2022, ele acredita que o PSOL não depende de sua candidatura para garantir o acesso ao fundo partidário e à propaganda política.

A decisão de Lula sobre essa possível nomeação deve ocorrer após seu retorno da viagem oficial à China. O presidente está considerando Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência, cargo atualmente ocupado por Márcio Macêdo. Segundo colaboradores do presidente, essa possibilidade foi cogitada desde o início do ano, quando Lula começou a traçar sua reforma ministerial.

Uma eventual candidatura de Boulos à Câmara em 2026 poderia complicar essa articulação. Há cerca de um mês, Lula sondou o psolista sobre a possibilidade de não disputar as eleições e permanecer no governo até o fim do mandato.

Um dos desafios enfrentados por Lula na reforma ministerial é a necessidade de desincompatibilização: ministros que desejam concorrer às eleições devem deixar seus cargos até seis meses antes do primeiro turno. Atualmente, estima-se que cerca de 20 ministros deixarão o governo para se candidatar.

O presidente tem reforçado para seus aliados que não deseja nomear novos ministros que planejam deixar os postos em abril de 2026. Embora ainda não tenha formalizado um convite a Boulos, relatos indicam que ele estaria disposto a aceitar essa condição para se engajar no projeto político do petista.

No entanto, percalços recentes, como as saídas dos ex-ministros Juscelino Filho (União Brasil-MA) e Carlos Lupi (PDT-RJ), têm atrasado os desdobramentos da reforma. Como líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Boulos poderia fortalecer a articulação com movimentos sociais e a defesa do governo nas redes sociais.

Na corrida pela Prefeitura de São Paulo, Lula se empenhou pessoalmente para que o PT apoiasse a candidatura de Boulos, idealizando uma chapa com Marta Suplicy na vice. Durante as negociações, chegou a afirmar que considerava Boulos mais petista do que alguns filiados ao PT. O PT abriu mão de uma candidatura própria na maior cidade do país para apoiar Boulos, que chegou ao segundo turno, mas foi derrotado por Ricardo Nunes (MDB), reeleito com apoio bolsonarista.

Lula tem confiança e apreço por Boulos e fez campanha por ele no ano passado, embora não tenha comparecido à reta final da disputa em São Paulo devido a problemas de saúde. Em 2022, durante a transição de governo, Boulos foi cotado para assumir um ministério e participou do grupo de trabalho das Cidades, mas acabou não ocupando nenhum cargo devido à sua pré-candidatura à prefeitura.

No esboço inicial da reforma ministerial, o nome considerado para a Secretaria-Geral era o da ex-presidente do PT Gleisi Hoffmann. No entanto, com sua nomeação para articulação política, Lula passou a considerar Boulos para essa vaga.

Aliados afirmam que a intenção do presidente é reanimar o eleitorado de esquerda em um momento em que uma ala do centrão no governo ameaça apoiar adversários nas próximas eleições. A estratégia visa consolidar uma base histórica forte rumo às eleições de outubro de 2026.

Na última segunda-feira (5), Lula avançou mais um passo em sua reforma ministerial ao substituir Cida Gonçalves (PT) pela também petista Márcia Lopes no Ministério das Mulheres.