O governo Lula (PT) está em estado de alerta diante da possibilidade de Donald Trump, em abril, impor tarifas sobre uma vasta gama de produtos brasileiros, superando as ameaças iniciais. As avaliações atuais vão além das barreiras já anunciadas para o etanol e das taxas sobre aço e alumínio, que foram implementadas em 12 de março.

Uma nova e preocupante hipótese surgiu nas discussões do Palácio do Planalto: a possibilidade de Trump anunciar um imposto linear que afetaria praticamente toda a pauta exportadora brasileira para os Estados Unidos. O presidente americano revelará sua política de tarifas recíprocas no dia 2 de abril, uma medida que pode ter um impacto significativo no Brasil.

As conversas entre o governo Lula e Washington têm se concentrado principalmente no etanol, um dos produtos que os EUA ameaçam tarifar. Os americanos consideram o álcool combustível como um exemplo de tratamento desigual no comércio bilateral, citando que o Brasil aplica um imposto de 18% sobre o etanol importado, enquanto a taxa americana é de apenas 2,5%.

Entretanto, as recentes interações bilaterais têm gerado preocupações sobre uma possível escalada na guerra comercial liderada por Trump. Apesar da falta de clareza sobre os planos concretos do presidente americano, declarações de seus auxiliares e reportagens da imprensa especializada indicam que o Brasil pode enfrentar medidas tarifárias mais abrangentes.

As duas principais preocupações do governo Lula são a imposição de novos setores tarifados ou alíquotas específicas para diferentes parceiros comerciais. A imprensa americana tem discutido algumas propostas em análise na Casa Branca. Um plano considerado anteriormente previa classificar os países em três categorias tarifárias com base no nível de protecionismo. No entanto, essa abordagem foi abandonada em favor de um tratamento individualizado.

Em entrevista à Fox Business, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, revelou que cada país receberá uma pontuação com base em suas barreiras comerciais, que será utilizada para determinar o tratamento tarifário. “No dia 2 de abril, apresentaremos uma lista das tarifas dos outros países e informaremos: aqui está nossa avaliação sobre suas tarifas e práticas comerciais”, disse Bessent.

Embora as conversas entre os governos permaneçam em sigilo, não há indicações públicas sobre quais tarifas poderiam ser impostas aos produtos brasileiros. Um relatório recente do USTR (Representante de Comércio dos Estados Unidos) afirma que os EUA consideram o Brasil como um país que impõe tarifas elevadas sobre importações em diversos setores.

Esse cenário gera forte apreensão devido à importância da pauta exportadora brasileira para os EUA. Em 2024, as exportações industriais brasileiras para os Estados Unidos totalizaram US$ 31,6 bilhões, tornando-os o principal destino dos produtos industriais brasileiros. Entre os dez principais itens exportados aos EUA, oito pertencem à indústria de transformação, incluindo aeronaves e suas partes.

Mesmo que Trump não adote uma abordagem individualizada para cada país, sinais recentes indicam que outros setores podem ser alvo de sobretaxação. O republicano já ordenou investigações comerciais que podem resultar na imposição de novas tarifas sobre produtos como cobre e madeira, ambos exportados pelo Brasil aos EUA.

O governo Lula segue monitorando a situação com cautela enquanto aguarda os desdobramentos das políticas comerciais americanas.