Wellington Dias tem força para enfrentar centrão, afirma Eliane Aquino secretária do Bolsa Familía Redação 14 de agosto de 2023 Destaque, Notícias, Política, ultimas notícias, ÚLTIMAS NOTÍCIAS Responsável pela gestão do Bolsa Família, a secretária Eliane Aquino defendeu o ministro Wellington Dias (Desenvolvimento e Assistência Social) das investidas do centrão, que cobiça o comando da pasta. “Wellington é um ministro fantástico em termos de olhar para a política pública, com olhar para as necessidades dessa população”, afirma em entrevista. “O ministro Wellington tem esse olhar e essa força política para enfrentar o modo de fazer política do centrão.” Aquino é secretária Nacional de Renda de Cidadania da pasta. Antes, foi vice-governadora de Sergipe e já ocupou as secretarias de assistência social do estado e da capital, Aracaju (SE). Ela destaca que a pasta é responsável não somente pelo programa de transferência de renda, mas também pela gestão e estruturação do Suas (Sistema Único de Assistência Social), uma rede de proteção a famílias mais vulneráveis –algo equivalente ao que o SUS (Sistema Único de Saúde) representa para a saúde. Segundo a secretária, o Suas sofreu um processo de desmonte no governo Jair Bolsonaro (PL), e seria um retrocesso para o país se o trabalho mais recente de reestruturação fosse ameaçado por disputas políticas. Sem uma base parlamentar sólida no Congresso Nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) negocia o embarque de siglas do centrão que ainda não têm cargos no primeiro escalão do governo, como o PP, do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o Republicanos. O Desenvolvimento Social é uma das principais reivindicações do PP, embora haja resistência do PT em entregar para outra legenda um ministério central para as bandeiras sociais do governo. Mesmo que o centrão não fique com o comando da pasta do Bolsa Família, a troca de Wellington Dias ainda é uma possibilidade. A auxiliares próximos no Palácio do Planalto, Lula tem reclamado que o ministro precisa estar mais focado e turbinar as agendas positivas. Como o MDS detém uma das principais vitrines do governo, Lula esperava que a pasta fosse um celeiro de anúncios para impulsionar a imagem do presidente, o que não vem acontecendo –na avaliação do chefe do Executivo. Dentro do MDS, a avaliação é que o tempo político é diferente do tempo das políticas públicas. Após uma sucessão de grandes mudanças estruturais no Bolsa Família num curto período, Eliane Aquino afirma que o novo governo precisou ajustar as engrenagens, tanto do funcionamento diário do ministério quanto do programa social. “Se um carro está com problema no motor, você pode ter o sonho que quiser de chegar a outra localidade. Se seu carro não estiver tinindo, você não vai chegar”, diz. Sob Bolsonaro, a pasta do Bolsa Família foi comandada por quatro ministros: Osmar Terra, Onyx Lorenzoni, João Roma e Ronaldo Vieira Bento. O período foi marcado pela pandemia e pelo aumento da miséria e da fome. Em abril de 2020, o Bolsa Família deu lugar ao Auxílio Emergencial, que acabou em outubro de 2021. Em novembro do mesmo ano, Bolsonaro lançou o Auxílio Brasil –uma forma de tentar apagar a marca social de gestões petistas– e turbinou as transferências de renda às famílias em ano eleitoral. O movimento, porém, não foi acompanhado pela ampliação de recursos para sustentar a rede de assistência nos municípios, principal ponto de contato entre o poder público e as famílias vulneráveis. Houve o movimento contrário: as verbas minguaram. Dias herdou um programa social com distorções a serem corrigidas, após o crescimento desordenado de famílias beneficiárias (sobretudo unipessoais), e uma rede assistencial sucateada pela falta de dinheiro em anos anteriores. A secretária do Bolsa Família o defende dizendo que, quando governou o estado do Piauí, o ministro contribuiu para o avanço social. “Quando a gente olha os dados do Piauí e de todo o Nordeste antes do governo Lula, lembra das cenas de seca, fome e morte. A partir da entrada de governadores mais alinhados ao PT, o Nordeste deu um salto, por conta das políticas públicas que passaram a ser muito mais conectadas com o governo federal. E o Piauí foi um dos estados que mais avançou”, diz. No MDS, ela cita como principais desafios a reconstrução do Bolsa, reformulado em março, a reestruturação do Suas e a criação de novas áreas no ministério, especialmente a de inclusão socioeconômica. “É muita ousadia trazer uma área de inclusão para perto de pessoas que estão passando fome. Vamos gerar emprego para esse público que está no Cadastro Único e no Bolsa Família, para desmistificar a ideia de que a pessoa não quer trabalhar. Estudos mostram que elas já trabalhavam desde os 11 anos de idade. O problema é que nunca tiveram oportunidades”, afirma Aquino. O Ministério do Desenvolvimento Social segue no alvo do centrão, segundo auxiliares de Lula. Uma possível solução aventada nos bastidores seria transferir o Bolsa Família para a Casa Civil, chefiada pelo PT, e deixar o MDS com ações de assistência social, como construção e manutenção dos Cras (Centros de Referência de Assistência Social), postos de atendimento às famílias carentes e que funcionam como porta de entrada para o Cadastro Único. O nicho desperta o interesse dos parlamentares devido à possibilidade de irrigar com emendas e verbas seus redutos eleitorais. Aliados de Lula no Planalto e no PT rejeitam a ideia, mesmo com a transferência do Bolsa Família para outra pasta sob a guarda do partido. Eles argumentam que o principal programa social do país deve estar integrado com as políticas de assistência. Diante desse impasse, ainda não há previsão de data para o anúncio da reforma ministerial.