A batalha pela votação da denúncia contra o presidente Michel Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que terminou com a vitória do governo e um relatório alternativo de Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) pelo arquivamento da ação no plenário, detonou uma guerra pela redistribuição dos cargos da Esplanada dos Ministérios. Tudo para pagar a conta da fidelidade. O resultado também ampliou o racha dos tucanos sobre a permanência na base do governo.

Líderes do centrão partiram para o ataque e agora cobram de Michel Temer um ultimato ao PSDB para que assuma uma posição definitiva: ficar no governo ou abandoná-lo de vez. De olho em uma possível reforma ministerial quando, e se, passar a votação de todas as denúncias da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Temer, esses líderes querem espaço na Esplanada proporcional ao desgaste dos partidos que já assumiram e assumirão a linha de frente para rejeitar as denúncias na Câmara.

A birra desses partidos, que foram os que garantiram ao presidente a vitória na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), é que, enquanto alguns deputados sofrem o desgaste de votar contra a denúncia de Temer, os tucanos se dão ao luxo de fazer discurso contra o governo, enquanto mantêm quatro ministérios. Na CCJ, apenas dois, dos sete tucanos que integram a comissão, votaram para rejeitar a denúncia.

“O PSDB que faça sua DR, se resolva e diga se fica ou se não fica. Tem gerado uma insatisfação muito grande em partidos como PR, PSD e o próprio PRB, que avalia fechar questão, e o PSDB fazendo discurso contra. O espaço no governo tem que ser proporcional ao número de votos. Não dá para ter um partido com quatro ministérios e metade de seus deputados votando contra o governo. Se essa situação continuar, a tendência é perder apoios em outros partidos”, disse o deputado Beto Mansur (PRB-SP), ao jornal O Globo.

Na contabilidade do governo, o PSDB, que tem 46 deputados, entregará 25 votos contra a denúncia no plenário, cuja votação está prevista para o dia 2 de agosto. O número diverge da contabilidade interna do partido, segundo a qual apenas entre 15 e 17 deputados votarão pela rejeição da denúncia.

O líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), afirma que cabe a Temer decidir sobre os espaços no governo, mas mantém que é majoritária, na bancada tucana, a posição de que as acusações contra o presidente devem ser investigadas. Ele voltou a defender que o partido abandone os cargos.

O senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), que já defendeu o abandono de ministros tucanos dos “cargos confortáveis”, reafirma que o presidente Michel Temer tem liberdade para fazer o que quiser com os ministérios. “Os cargos pertencem ao presidente da República, não aos partidos. A grande preocupação hoje no partido não é com os cargos, mas em construir a unidade, que não está fácil. E o gesto de Abi-Ackel vai na direção oposta. A curto prazo, ganha a ala que apoia o governo, mas, no final, o partido perde”, afirma Cássio.

Há no partido, porém, uma percepção de que dificilmente Temer vai promover uma devassa nos quatro ministérios hoje ocupados pelo PSDB. Isso porque a consequência imediata de um gesto assim seria, segundo dirigentes tucanos, a perda do apoio daqueles que ainda se mantêm ao lado do governo.

O ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes, por exemplo, é um dos mais enfáticos defensores da permanência do PSDB na base aliada. No início da semana, por exemplo, Temer respirou aliviado com a decisão da cúpula do PSDB, reunida em São Paulo, de não ter aprovado o desembarque em um momento de fragilidade e que poderia ser uma péssima sinalização.

Esse fato teria reflexo direto na votação da denúncia contra Temer no plenário da Câmara. Votos que hoje são computados como contrários à denúncia poderiam migrar para o lado dos favoráveis, que hoje são maioria na legenda. Além disso, lembram parlamentares do partido, essa é apenas a primeira batalha que Temer precisa vencer para se manter no cargo até 2018. Há expectativa de apresentação de novas denúncias por parte do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e de outras adversidades no caminho, como as delações do deputado cassado Eduardo Cunha e do doleiro Lúcio Funaro.

A consequência mais imediata do resultado na CCJ para o PSDB é trazer de volta para os holofotes a situação do senador Aécio Neves (PSDB-MG), que defende a manutenção do apoio ao governo e enfrenta as investigações da Operação Lava-Jato. As primeiras versões que circularam entre os tucanos indicam que Abi-Ackel teria se tornado o relator a pedido de Aécio, que trabalha internamente para que o PSDB mantenha o apoio ao governo Temer. Apesar da proximidade, tanto Abi-Ackel quanto Aécio, por meio de assessoria, negaram que isso tenha acontecido. De acordo com o deputado, o colega mineiro nem sequer foi comunicado de sua decisão de relatar o processo, o que pessoas próximas consideram pouco provável.

Abi-Ackel foi um dos dez parlamentares que apresentaram um voto em separado pedindo o arquivamento da denúncia contra Temer. Ele diz que foi escolhido pelo presidente da CCJ, o conterrâneo Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), por ser o autor de um dos votos divergentes.

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