Na última sexta-feira, 17 de janeiro, a Prefeitura de Maricá anunciou um projeto que promete reverberar na cultura carnavalesca não apenas da cidade, mas em todo o Brasil. Com o lançamento da Universidade Livre do Carnaval (Ulcamar) e da Rede Brasileira de Estudos do Carnaval (Rebeca), a cidade dá um passo significativo para valorizar e profissionalizar uma das maiores indústrias culturais do país.

A cerimônia de apresentação do projeto foi realizada no Cine Henfil, em Maricá, e contou com a presença de diversas autoridades e figuras emblemáticas da cultura brasileira. O evento contou também com apresentações artísticas das escolas de samba União de Maricá e Mangueira, do bloco afro Ilê Aiyê, e de Rafael Caçula. A primeira-dama, Gabriela Lopes Siqueira, fez questão de participar do evento e expressou a relevância da iniciativa para capacitar e valorizar a mão de obra local: “Essa é uma produção que envolve o ano inteiro de muito trabalho, além de sustentar muitas famílias. A Universidade vai qualificar nossa população para essa grande indústria cultural”, disse em tom otimista.

Para o secretário de Cultura e das Utopias, Sady Bianchin, o projeto representa um marco histórico para a cidade, que é uma quebra de paradigmas. “A Universidade Livre do Carnaval de Maricá é pioneira não só no Brasil, talvez no mundo. Não será responsável apenas pela questão da formação, mas também pela inclusão, pela geração de renda e, sobretudo, chegou para colocar a economia criativa ao alcance da população da cidade, da região metropolitana do Rio e nas articulações nacionais, através principalmente da Rede Brasileira de Estudos do Carnaval, que vai convergir para Maricá todos esses núcleos de estudos de universidades brasileiras num conjunto de possibilidades de pensamento para a gente implementar cada vez mais a construção de uma sociedade mais justa, mais igualitária, através da alegria, que é o motor essencial do nosso Carnaval”, comemorou o secretário.

Como Tudo Começou

De acordo com Jonas Paulo, coordenador executivo do Codes (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Bahia), o projeto da Universidade Livre do Carnaval surgiu como um desdobramento de um trabalho que já vem sendo desenvolvido há dois anos em Maricá, em parceria com o Ilê Aiyê, os Pimpolhos da Grande Rio e, logicamente, a União de Maricá. “Estamos falando de uma ação estruturada em formação nas áreas de dança, canto e toques sagrados de percussão. Essa experiência sólida gerou a ideia de construir algo maior, que fortaleça a relação com as escolas de samba de Maricá, englobando também a entidade que congrega essas escolas. Nossa parceria com a Grande Rio e a Mangueira é uma demonstração do nosso comprometimento em trazer uma abordagem mais profunda e educativa para a cultura carnavalesca. A Universidade Livre do Carnaval almeja explorar as raízes do samba e das manifestações culturais afro-brasileiras, principalmente na região do recôncavo baiano, ampliando horizontes para compreender melhor a construção de materiais, carros alegóricos, indumentárias e adereços que compõem a estética afro-brasileira”, afirmou. Jonas explicou também que a proposta é estabelecer um verdadeiro processo de formação, capacitação e profissionalização para todos os envolvidos nessa rica área. Em nosso primeiro momento, o foco será nas raízes negras da cultura do samba, abrangendo outras expressões, como o samba reggae e atividades diversificadas que acontecem na Bahia. “Estamos atentos aos movimentos culturais que emergem de comunidades e entendemos que a participação das famílias é crucial. Essa grande indústria de adereços e serviços que envolve o Carnaval é sustentada por laços familiares, que trazem tradição e inovação a cada celebração. Vale ressaltar que buscamos não apenas resgatar, mas também afirmar a presença da capoeira e de outras manifestações culturais nas nossas comunidades. Nossa expectativa é criar uma rede que conecte essas práticas notáveis e disponibilize caminhos profissionais tanto na indústria do Carnaval quanto em festividades de bairros adjacentes ao Rio de Janeiro. Também estamos estabelecendo parcerias na Bahia, especialmente em Salvador e na região metropolitana, para fomentar o intercâmbio cultural que tanto enriquece a nossa identidade”, finalizou.

Um Olhar para o Futuro

O primeiro curso da Ulcamar, voltado para aderecistas, teve início em 2024, com a participação de 300 alunos na Casa das Artes Carnavalescas. Este é apenas o começo de uma série de iniciativas que incluirão até 60 cursos tecnológicos e livres. De acordo com Paulo Gabriel Naciff, reitor da Universidade Federal do Recôncavo Baiano, que é responsável pelo projeto pedagógico da Ulcamar, a Universidade promete trazer uma nova abordagem à formação dos profissionais do Carnaval, oferecendo não apenas cursos técnicos, mas também pós-graduação lato sensu. Os cursos estarão divididos em três módulos: consultoria, gestão e produção de Carnaval, cumprindo o objetivo de integrar a economia criativa às necessidades do setor.

Cláudio Gimenez, presidente do Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá (ICTIM), destacou que o lançamento da Ulcamar e da Rebeca representa um divisor de águas para a cultura carnavalesca em Maricá, cumprindo o papel de transformar a economia criativa em uma extensão da tradição cultural. Ele ressaltou ainda que a Prefeitura dá um exemplo inspirador de como investir em educação e capacitação pode impactar positivamente a vida da população, gerando oportunidades e sustento para muitas famílias. “A indústria carnavalesca cresce em Maricá a partir da noite de hoje. E, consequentemente, quem ganha é a população, por meio da criação de postos de trabalho”, afirmou.

Reitoria

Os reitores da Universidade do Carnaval serão Evelyn Bastos, Antônio Carlos dos Santos (“Vovô do Ilê”) e Guanayra Firmino, presidenta da GRES Estação Primeira de Mangueira.

Presenças

O evento contou com a participação de personagens diretamente envolvidos na criação da universidade, como o secretário de Cultura e das Utopias, Sady Bianchin, e o secretário de Turismo, Comércio, Indústria e Mercado Interno, José Alexandre de Almeida, além de Cláudio Gimenez, presidente do Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá (ICTIM); Paulo Gabriel Naciff, reitor da Universidade Federal do Recôncavo Baiano e responsável pelo projeto pedagógico da Ulcamar; Hamilton Lacerda, presidente da Companhia de Desenvolvimento de Maricá (Codemar); Evelyn Bastos, diretora cultural da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa); Antônio Carlos dos Santos, “Vovô do Ilê”, presidente do Bloco Afro Ilê Aiyê; Juliano Oliveira, presidente da União de Maricá; e Jonas Paulo, coordenador do Codes da Bahia.