Líder do Brasileiro e nas semis da Copa do Brasil e da Libertadores, o Atlético-MG tem uma temporada bem-sucedida graças aos investimentos fortes em seu futebol. As contas, no entanto, mostram que o clube não gera receita suficiente para bancar o time. Há um buraco de R$ 33 milhões entre a receita corrente e os custos nos primeiros seis meses de 2021. Isso é coberto por empréstimos da família Menin.

Os números constam do balancete semestral do Galo, que foi divulgado pela primeira vez neste ano. É preciso destrinchar os dados para conhecer a real situação das finanças atleticanas.

Primeiro, o Relatório Econômico-Financeiro do clube mostra um cenário bem otimista. Apresenta um superávit de R$ 49 milhões. Além disso, cita a quitação de 90% das dívidas na Fifa e renegociações de dívidas antigas com condições mais vantajosas. São dados reais e, de fato, positivos, mas não mostram o quadro todo.

Uma pergunta que o leitor certamente fará é: como o Galo tem um buraco no futebol se teve superávit? O superávit atleticano foi gerado principalmente por questões contábeis (legítimas e lançadas corretamente, diga-se). Mas não geram dinheiro real nos cofres do clube.

Há, por exemplo, R$ 85 milhões em receitas financeiras. São ganhos que o clube teve ao renegociar dívidas, principalmente aquelas com o ex-presidente Ricardo Guimarães e seus familiares. Ele aceitou reduzir parte dos débitos, parcelar e trocar valores por patrocínio na camisa por seis anos. Quando a agremiação obtém um desconto, pode lançar como receita financeira. Foi assim no Profut.

O clube registrou em seu relatório: “O resultado financeiro, por sua vez, reflete as ações voltadas para a renegociação total das nossas dívidas, com ênfase na redução dos passivos onerosos através de descontos/perdão de obrigações, repactuação de taxas e alongamento de prazo. O sucesso nas negociações fechadas no primeiro semestre de 2021 permitiu uma redução de passivos no valor de R$ 95 milhões”.

Esse tipo de operação é benéfica para agremiação, mas não é dinheiro em caixa. Sem as receitas financeiras, o clube teria um déficit de R$ 36,6 milhões no semestre.

Só que há outro ponto nas receitas do clube que é só contábil: as receitas patrimoniais, em um total de R$ 56 milhões. O relatório explica que esse valor é “referente ao ganho do valor justo do Fundo Imobiliário representado pela Arena MRV”. Ou seja, o estádio em construção do clube se valoriza e isso é contabilizado como receita. A operação é correta, mas, de novo, não é dinheiro em caixa para bancar o time.

De resto, sobra uma receita de R$ 144,3 milhões com o futebol, e outros R$ 3,5 milhões da parte social. Essa renda do futebol, no entanto, está inflada por pagamentos de direitos referentes ao Brasileiro-2020 que só foram quitados neste semestre. No total, são R$ 39 milhões, como descrito no relatório financeiro atleticano. Descontado esse valor, o Galo obteve uma receita real referente a este semestre de R$ 108,3 milhões.

E quanto custa o time do Galo? O custo com o futebol fechou os primeiros seis meses em R$ 137,7 milhões —ocorreu uma redução em relação ao 2º semestre de 2020. Houve ainda despesas de R$ 3,7 milhões com a parte social, isto é, este setor praticamente empata receita e gasto. No total, portanto, a despesa é de R$ 141,4 milhões.

Assim, considerando apenas a parte operacional deste ano, o Galo tem um rombo de R$ 33 milhões. E como o clube financia esse valor para ter o seu time estelar? Houve um aumento de dívida em empréstimos.

O débito líquido do Galo subiu para R$ 1,267 bilhão. Foi um crescimento em torno de R$ 40 milhões, mesmo com os pagamentos de dívidas na Fifa e dos descontos dos créditos de Ricardo Guimarães. De fato, constata-se uma redução dos débitos em contas para pagar, que incluem os valores a serem quitados com outros clubes.

O maior aumento na dívida do Galo foi no item “empréstimos e financiamentos”. O valor saltou de R$ 535,6 milhões para R$ 606,8 milhões. O que aconteceu é óbvio: a família Menin aumentou seus aportes no clube para bancar o buraco do futebol e manter os investimentos em alta.

Um fator positivo é que o Galo troca dívidas que tinham juros mais altos (Ricardo Guimarães) ou ameaças esportivas (Fifa) por débitos com prazos mais longos. Do total, R$ 526 milhões dos empréstimos são a longo prazo. Apesar disso, o clube continua com um passivo a curto prazo bem significativo: R$ 487 milhões. Ou seja, essa é a dívida que tem de ser paga em um ano.

Para cumprir pagamentos e bancar o futebol, o Galo teria de gerar dinheiro para quitar um futebol anual de R$ 275 milhões (não incluído aí Diego Costa que chegou depois), mais receita para pagar esses débitos. A renda do clube teve um aumento em relação ao primeiro semestre do ano passado de mais de R$ 30 milhões. E pode dar um salto com possíveis títulos da Libertadores e Copa do Brasil. É um cenário bem complicado, no entanto, ser suficiente para bancar o futebol e pagar os compromissos passados para reduzir o débito.

A conclusão é que a operação do futebol do Galo, hoje, não é sustentável sem aportes constantes externos.

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