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A apenas quatro dias da entrada em vigor da sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, anunciada pelos Estados Unidos, o governo do presidente Lula (PT) está empenhado em negociar a exclusão de itens estratégicos da lista de tarifas impostas pela administração de Donald Trump. A expectativa é que a medida, caso confirmada, represente um dos maiores aumentos tarifários do mundo.

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, tem liderado os esforços diplomáticos, mantendo conversas com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick. O objetivo principal é poupar setores vitais da economia brasileira, como alimentos. O Brasil, um gigante na produção e exportação de suco de laranja, destina 42% de sua produção para os Estados Unidos, que também é o principal comprador de café brasileiro. Entre janeiro e maio de 2025, os EUA importaram 2,87 milhões de sacas de café do Brasil, respondendo por 17,1% do total exportado pelo país.

Além dos alimentos, há um pedido para que aeronaves fabricadas pela Embraer sejam isentas da sobretaxa. O mercado norte-americano é o principal destino da aviação regional da empresa, e um dos argumentos apresentados é o fato de a Embraer importar peças dos EUA.

Enquanto aguarda uma resposta concreta de Washington, o governo brasileiro estuda cenários de retaliação e mantém em sigilo o plano de contingência até que a sobretaxa americana se materialize. O plano, elaborado pela equipe técnica, já foi concluído e aguarda aprovação do presidente Lula.

Em reunião nesta segunda-feira (28) com o presidente Lula e o vice-presidente Alckmin no Palácio do Planalto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, apresentou as “possibilidades que estão à disposição do Brasil”. Haddad reiterou que o “foco do Brasil é negociar” e que Alckmin está “permanentemente à disposição” das autoridades americanas. Ele ressaltou que o presidente Lula só tomará uma decisão sobre a reação brasileira após a publicação do ato executivo dos EUA com os detalhes das tarifas.

“Não sabemos nem a decisão que vai ser tomada. Possivelmente, a gente espera que não seja unilateral no dia 1º. Então, nós vamos insistir de que a medida não seja unilateral por parte dos Estados Unidos”, declarou Haddad.

Entre as medidas de contingência em estudo, conforme noticiado pela Folha de S.Paulo, está a criação de um fundo privado temporário para facilitar o crédito a empresas afetadas, além de ações de preservação de empregos inspiradas no programa emergencial da pandemia.

Alckmin, apesar de elogiar a elaboração do plano de contingência, reafirmou que a prioridade é a resolução do problema através da negociação. “Todo o empenho agora nessa semana é para a gente buscar resolver o problema. Quero dizer a vocês que nós estamos dialogando neste momento pelos canais institucionais e sob reserva”, afirmou. Sobre a possibilidade de uma ligação direta de Lula a Trump, Alckmin disse não ter tratado o assunto, mas destacou a defesa do diálogo por parte do presidente.

A confirmação de Trump sobre as sobretaxas a partir de 1º de agosto, com a taxa de 50% para o Brasil, torna o adiamento do prazo um desafio. Uma comitiva de oito senadores brasileiros encontra-se em Washington para sensibilizar autoridades e empresários americanos.

Alckmin tem sido o principal articulador do Brasil nas negociações com o governo americano desde abril. No entanto, o presidente Lula relatou recentemente a dificuldade em avançar nas tratativas, afirmando que o vice-presidente “tenta diariamente negociar com os Estados Unidos, mas sem sucesso”. O chanceler Mauro Vieira, que participou de uma conferência da ONU em Nova York, não obteve sinalizações positivas para um encontro com membros do governo Trump, o que pode levar ao cancelamento de sua viagem a Washington.

O governo brasileiro enfatiza que não haverá concessões em questões políticas ligadas ao tarifaço, como a situação jurídica do ex-presidente Jair Bolsonaro ou decisões judiciais. A soberania do Brasil é considerada inegociável nas conversas.

Em resposta ao interesse americano por materiais críticos no Brasil, o presidente Lula declarou publicamente que as reservas minerais “pertencem ao povo brasileiro”. Internamente, Alckmin segue reunindo-se com representantes de diversos setores para analisar os impactos da sobretaxa na economia nacional.