O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, propôs a retirada significativa da população palestina da Faixa de Gaza para outros países árabes, com o objetivo de “limpar a situação” após mais de um ano de devastação devido ao conflito entre Israel e o Hamas. A declaração foi feita durante uma conversa com repórteres enquanto retornava da Califórnia na noite de sábado (25), após um telefonema com o rei Abdullah da Jordânia.

Trump sugeriu que a Jordânia poderia receber os refugiados palestinos e mencionou sua intenção de discutir a proposta com o presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, no domingo (26). Ele descreveu a ideia como uma solução que poderia ser “temporária ou de longa duração”, mas suas palavras despertaram preocupações históricas entre os palestinos e ecoaram os desejos da ultradireita que apoia o governo do primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu em relação à colonização de Gaza.

O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, elogiou a proposta como uma “grande ideia” e se comprometeu a elaborar um “plano operacional” para sua implementação. Com uma população estimada em cerca de 2,2 milhões, a proposta de Trump levanta sérias questões sobre os direitos humanos e a soberania dos palestinos.

A ideia remete à nakba (catástrofe), termo utilizado pelos palestinos para descrever a expulsão forçada durante a criação do Estado de Israel em 1948. Embora Israel rejeite essa narrativa, alegando ter sido atacado por seus vizinhos após a determinação da ONU sobre a partilha da antiga Palestina britânica, milhões de palestinos foram deslocados ao longo do tempo.

A busca de Trump por apoio em Amã e Cairo não é acidental. Ambos os países já acolheram refugiados palestinos e enfrentaram desafios relacionados à liderança palestina. O governo egípcio já havia advertido que não aceitaria uma nova remoção forçada dos palestinos durante o atual conflito iniciado pelo Hamas em 7 de outubro de 2023.

Ainda que os acordos de paz de 1994 visem estabelecer Gaza e Cisjordânia como parte de um futuro Estado palestino, essa visão nunca se concretizou. A gestão prolongada de Netanyahu tem incentivado a colonização ilegal, enquanto as divisões internas entre os palestinos, com o Hamas dominando Gaza desde 2007, complicam ainda mais a situação.

A proposta controversa surge em um contexto onde a devastação em Gaza é alarmante: segundo dados da ONU, 92% das construções na faixa foram danificadas ou destruídas. O Hamas afirma que cerca de 47 mil pessoas morreram durante o conflito, enquanto Israel contabiliza 1.200 mortos em seus ataques.

Antes do cessar-fogo atual e durante seu governo, Trump já havia sugerido realocar os palestinos para a Indonésia sem consultar o país asiático. O Qatar, principal mediador da trégua, rejeita qualquer solução que envolva a saída forçada da população.

Em um esforço para apresentar sua proposta sob uma luz humanitária, Trump também levantou um veto imposto por seu antecessor Joe Biden sobre o fornecimento de bombas poderosas usadas por Israel em Gaza. Enquanto isso, Israel impediu o retorno de alguns palestinos ao norte da Faixa conforme acordado no cessar-fogo, alegando violação dos termos do acordo pelo Hamas.

A situação permanece tensa e complexa, com as perspectivas para uma solução duradoura ainda incertas.