Após 54 anos de domínio, a ditadura da família Assad chegou ao fim neste domingo (8), em meio a um avanço rápido de forças lideradas pela HTS (Organização para a Libertação do Levante), um grupo originado da rede terrorista Al Qaeda. A situação desencadeou uma série de reações, especialmente em Israel, que anunciou uma campanha aérea focada na destruição do arsenal de mísseis balísticos e armas químicas da Síria, com o objetivo de evitar que esses armamentos caiam nas mãos de extremistas jihadistas.

No mesmo dia da queda do regime, aviões israelenses realizaram ataques em depósitos de armas químicas na região de Damasco. Durante seu governo, Assad utilizou essas armas proscritas contra seus adversários ao longo dos 13 anos de guerra civil. O ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, afirmou que as forças israelenses irão direcionar seus ataques a “armas estratégicas pesadas em toda a Síria”, incluindo mísseis terra-ar, sistemas de defesa aérea e mísseis de cruzeiro.

O chanceler Gideon Saar ressaltou que o foco de Israel não está nos assuntos internos da Síria, mas sim na proteção dos cidadãos israelenses. Ele enfatizou a necessidade de neutralizar sistemas estratégicos que possam ser utilizados por extremistas.

De acordo com o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, Assad dispunha de um variado estoque de mísseis e foguetes, muitos dos quais eram de origem soviética. Embora os modelos balísticos com alcance até 500 km representem uma ameaça significativa para Israel, a condição atual desse arsenal permanece incerta após anos de conflito.

A queda do regime sírio também expõe Assad e o Irã a novos riscos. A Síria serviu como uma rota vital para o contrabando de armas entre Teerã e seus aliados no Ocidente. Com o desmantelamento do Hamas na Faixa de Gaza e a pressão sobre o Hezbollah no Líbano, Tel Aviv vê uma oportunidade estratégica na instabilidade que se segue à queda do regime.

Entretanto, há preocupações quanto ao vácuo de poder que pode surgir. A HTS se apresenta como um grupo moderado, mas é classificada como terrorista por diversas entidades ocidentais. As diversas facções que disputam o controle interno da Síria representam um risco potencial para Israel.

A fronteira entre Israel e Síria é desmilitarizada desde 1974, após a anexação das Colinas de Golã por Israel em 1967. Recentemente, Saar anunciou a presença temporária de uma “força limitada” na área, enquanto escavadeiras militares romperam cercas na madrugada. O Egito condenou essa ação como uma tentativa de “mais ocupação” das terras sírias.

No Líbano, onde um frágil cessar-fogo com o Hezbollah ainda está em vigor, quatro soldados israelenses foram mortos ao desarmar explosivos em um túnel. A queda do regime Assad também gerou reações entre os aliados iranianos; enquanto o Hezbollah expressa preocupação com a situação na Síria, o Hamas congratulou o povo sírio pela sua luta por liberdade.

O futuro pós-Assad levanta questões sobre possíveis surtos terroristas e instabilidade regional. A chancelaria alemã manifestou esperança de que o jihadismo da HTS permaneça confinado à Síria, enquanto a ONU celebrou o fim do regime opressivo e vislumbrou oportunidades para uma transição política inclusiva.

Com cerca de 10 mil soldados, segundo estimativas do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, a HTS enfrenta concorrência significativa do Exército Nacional Sírio e outros grupos moderados que somam cerca de 70 mil combatentes. A dúvida central permanece sobre as forças remanescentes leais a Assad e sua capacidade militar no contexto atual.

As relações futuras com os curdos no nordeste da Síria também são um ponto crítico; eles contam com aproximadamente 50 mil militares e têm sido adversários da Turquia, que desempenhou um papel fundamental na derrubada do regime Assad. A situação continua dinâmica e cheia de incertezas à medida que novas alianças e confrontos podem emergir na região.