Justiça do Senado promove audiência pública para discutir PEC que pode privatizar áreas da União no litoral Redação 26 de maio de 2024 Destaque, Julstiça, Notícias, Política, ultimas notícias, ÚLTIMAS NOTÍCIAS A Comissão de Constituição e Justiça do Senado promove nesta segunda-feira (27) uma audiência pública para discutir a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que transfere terrenos de marinha em áreas urbanas da União para estados e municípios ou para proprietários privados. Com isso, o Senado retoma a discussão da polêmica proposta, que estava parada desde agosto do ano passado por iniciativa de parlamentares governistas, inclusive com a apresentação do requerimento de audiência pública. Ambientalistas apontam que o texto dá margem para a criação de praias privadas, além de promover riscos para a biodiversidade. A audiência pública nesta segunda-feira vai contar com a presença de representantes dos ministérios do Meio Ambiente e da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, de associação de pescadores, de terminais portuários privados e prefeitos de cidades banhadas por mares, rios ou lagoas. A PEC foi aprovada pela Câmara dos Deputados em fevereiro de 2022. A medida enfrenta resistência do governo, que prevê riscos ambientais e busca obstruir a votação. A última tentativa aconteceu em agosto do ano passado, em sessão da própria CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). Nesta sessão, o presidente da comissão, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) afirmou que muitos senadores estavam “cobrando a deliberação dessa matéria”. O governo, no entanto, ganhou tempo ao aprovar requerimento do senador Rogério Carvalho (PT-SE) solicitando a realização de audiência pública. “Esse tema é muito importante e nós precisamos de um estudo sobre: o impacto no patrimônio da União que vai representar essa lei, o impacto ambiental, o acesso ao litoral, como é que vai se dar o acesso ao litoral no momento em que esse terreno deixa de ser de propriedade da União; a ocupação do solo, quem vai definir a ocupação do solo; e as comunidades de pescadores, ou seja, é um tema que requer uma discussão”, afirmou o senador governista na ocasião. O relator da proposta na comissão é o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que apontou a tentativa do governo de “protelar” a votação. O parlamentar afirmou que levantamento da SPU (Secretaria de Patrimônio da União) apontou que atualmente são 521 mil propriedades cadastradas em áreas de marinha. “Essa é a maior reforma agrária que a gente pode ter na história do Brasil, para dar segurança jurídica a uma realidade que já existe em diversas cidades. São Luís, Florianópolis, por exemplo, são duas das cidades mais impactadas”, afirmou o senador, na sessão em agosto do ano passado. O relatório do senador é favorável à medida, argumentando que o atual conceito de marinha causa inseguranças jurídicas quanto às propriedades de edificações nesses locais. “É imperioso enfrentar esse tema e conferir soluções mais adequadas para a população que vive sob os influxos das marés”, afirma o relatório. Os terrenos de marinha são faixas na costa marítima que foram definidas com base em uma linha imaginária da maré alta do ano de 1831. Ela se estende por 33 m em direção à terra firme. O texto da PEC mantém sob domínio da União áreas usadas pelo serviço público federal, unidades ambientais federais e terrenos não ocupados. Autoriza, porém, transferir para os estados e municípios as áreas que são usadas pelos serviços desses entes. Proprietários e ocupantes de imóveis inscritos junto ao órgão de gestão do patrimônio da União ou não inscritos, mas que tenham ocupado o local pelo menos cinco anos antes da publicação da emenda constitucional, também são abrangidos pelo texto. A PEC prevê que a União fará a cessão onerosa dessas áreas, ou seja, seus ocupantes serão obrigados a comprar o terreno. Nota técnica do Grupo de Trabalho para Uso e Conservação Marinha, da Frente Parlamentar Ambientalista do Congresso Nacional, afirma que a proposta, que parece ser um simples ato administrativo para desonerar o uso destas áreas representa uma “grave ameaça ambiental às praias, ilhas, margens de rios, lagoas e mangues brasileiros e um aval para a indústria imobiliária degradar, além de expulsar comunidades tradicionais de seus territórios”.