Enquanto o Rio Grande do Sul enfrenta uma das piores crises de enchentes de sua história, um outro drama silencioso emerge nos bastidores: o abuso no atendimento veterinário a animais afetados pela calamidade. Relatos alarmantes apontam para uma série de práticas ilegais e negligências que põem em risco não apenas a vida dos bichos, mas também a saúde coletiva.

Um dos principais problemas identificados é o exercício ilegal da Medicina Veterinária. Em meio ao caos das enchentes, pessoas sem qualificação técnica têm se aproveitado da vulnerabilidade dos animais para oferecer tratamentos inadequados ou até mesmo realizar procedimentos cirúrgicos sem a devida autorização. Tal conduta não só compromete a recuperação dos animais, mas também os expõe a riscos adicionais devido à falta de conhecimento técnico.

Além disso, casos de roubo de medicamentos destinados ao tratamento de animais têm sido relatados, agravando ainda mais a situação. Estes fármacos, essenciais para o controle da dor, infecções e outras condições de saúde, são desviados de seus destinos legítimos, privando os animais de acesso aos cuidados necessários e comprometendo sua recuperação.

A proliferação de zoonoses é outra preocupação. Com o aumento do número de animais desabrigados e a falta de condições adequadas de higiene, o cenário torna-se propício para a disseminação de doenças que afetam tanto animais quanto seres humanos. A leptospirose, por exemplo, é uma enfermidade transmitida pela urina de animais infectados que pode causar sérios danos à saúde pública.

Diante deste quadro preocupante, especialistas alertam para o risco à saúde única, conceito que reconhece a interdependência entre a saúde animal, humana e ambiental. O desrespeito aos direitos e à integridade dos animais não apenas viola princípios éticos fundamentais, mas também compromete a segurança sanitária de toda a população.

Autoridades competentes e organizações de proteção animal clamam por medidas urgentes para coibir tais abusos e garantir o atendimento adequado aos animais afetados pelas enchentes. É imperativo que sejam intensificados os esforços de fiscalização e que se promova a conscientização sobre a importância do respeito aos direitos dos animais e à integridade da saúde única.

A criminalização do exercício ilegal da Medicina Veterinária é fundamental para coibir práticas prejudiciais e garantir a segurança e o bem-estar dos animais. Além de proteger os direitos dos profissionais qualificados, essa medida contribui para a prevenção de danos aos animais e à saúde pública. Ao impor sanções adequadas aos infratores, a legislação demonstra o compromisso do Estado em combater a negligência e a exploração animal, promovendo uma cultura de respeito e responsabilidade para com todas as formas de vida.