O governador Jerônimo Rodrigues desembarca da China com a promessa de que traz na bagagem boas perspectivas para a Bahia. Estando na missão no país asiático no marco dos 100 dias de gestão, cabe ao resultado da visita aos chineses algum tipo de perspectiva mais concreta do que é o atual governo. Até aqui, Jerônimo colheu os frutos do seu antecessor e se limitou a lançar um programa contra a fome, nos moldes de um assistencialismo limitado.

Não são esperadas grandes transformações em tão pouco tempo de governo. Ainda mais quando se há a perspectiva de continuidade, numa espécie de gestão contínua aos últimos 16 anos em que o PT está no poder na Bahia. No entanto, é natural que se espere algo mais palpável, para que a própria máquina possa propagar. Por isso a missão chinesa é essencial para que Jerônimo consiga demarcar posição nesses primeiros meses de governo.

Em primeiro momento, quando o governador estaria totalmente integrado à comitiva de Luiz Inácio Lula da Silva, era possível temer que o baiano permanecesse a reboque do presidente. Como Jerônimo acabou embarcando antes de Lula, não ficou evidente a necessidade da ligação praticamente umbilical que o governador tenta explicitar desde a campanha eleitoral. Ou seja, o baiano teve espaço para “brilhar” sem ter que dividir os holofotes.

O resumo das promessas chinesas é excelente para a comunicação do governo da Bahia. É um cenário perfeito para quem precisa delimitar um marco de que não é mero continuísmo do período em que Jaques Wagner e – muito mais fortemente – Rui Costa estiveram na governadoria. Por isso a forma e a estratégia com que o entorno de Jerônimo vai apresentar o que obteve na China será essencial nesse processo de construção até da própria imagem enquanto governador.

Outro ponto importante é entender que o programa “Bahia sem fome” não pode ser o único carro-chefe de um governo em fase de “acreditação”. O “Fome Zero” dos anos iniciais de Lula, ainda na primeira década deste século, acabou não sendo um grande marco de política pública que deu certo. Mesmo que não admita, é clara a inspiração do governo e é possível traçar paralelos no contexto histórico e social com que os dois projetos se desenvolvem.

Então, há sempre o risco de, tal qual o projeto nacional, o programa baiano parecer uma vaga lembrança do avanço do estado sobre uma área que não necessariamente é de sua competência. Uma política de transferência de renda se mostrou muito mais eficaz do que a doação de alimentos e a própria experiência petista com o Bolsa Família demonstra isso. Repetir uma fórmula que não deu tão certo talvez represente mal um governo que tenta mostrar que “chegou chegando”. Por isso a missão China é tão relevante para saber quem é o governo Jerônimo Rodrigues.