A menos de 1 mês da eleição, voto nulo e branco é o mais forte em 16 anos Redação 17 de setembro de 2018 Destaque, Política artesã Soeli Aparecida Maia, 59, nunca anulou o voto, mas já decidiu que, em 2018, essa será a sua opção na urna. Mulher, com idade acima dos 45 anos, moradora do interior, Soeli está dentro do perfil dos eleitores onde o voto nulo é mais popular. E, nestas eleições, ele deve ser mais forte do que nas últimas quatro eleições.A pouco menos de um mês das eleições, 13% dos eleitores se dizem dispostos a anular seu voto ou votar em branco para presidente, segundo pesquisa Datafolha divulgada na última sexta-feira (14). Dos que optam pelo voto nulo ou branco, 61% dizem que não mudarão de opinião.O índice é bem superior ao encontrado em pesquisas Datafolha feitas cerca de um mês antes das eleições de 2014, 2010, 2006 e 2002 — era 6% em 2014 e 4% nas demais.Se seguir o exemplo dos dois últimos pleitos, a parcela de quem não vai optar por nenhum candidato ainda pode ser mais expressiva nas urnas: em 2014, 9,6% dos eleitores de fato anularam ou votaram em branco. Em 2010, foram 7%.O voto nulo e branco também só não perde em convicção, nas últimas pesquisas, para os votos declarados em Jair Bolsonaro (PSL) e em Fernando Haddad (PT). No levantamento divulgado na sexta, 75% e 72% diziam estar “totalmente decididos” a votar nesses candidatos, respectivamente.Soeli é uma das eleitoras que se diz disposta a manter sua decisão de anular até o segundo turno. “Há várias eleições, a gente escolhe entre o ruim e o pior, por isso o Brasil está onde está. Agora resolvi dar um basta. Pelo menos da minha parte, não vou colocar nem o ruim e nem o pior lá”, afirma ela, que mora em Sonora, cidade de 15 mil habitantes no norte do Mato Grosso do Sul.Para o diretor do Datafolha, Mauro Paulino, o alto índice de intenções de voto nulo ou branco —e de convicção— revela uma “manifestação de descontentamento dos eleitores, de não se sentirem contemplados pela oferta de candidatos e de partidos que está aí”.“O que a gente tem até aqui mostra ser grande a probabilidade que a gente tenha uma taxa de brancos e nulos maior do que nas últimas eleições”, diz Paulino.O cenário com alto índice de votos brancos e nulos favorece o candidato que está na liderança, já que diminui o universo dos votos válidos e, por consequência, o número de votos necessários para passar para o segundo turno ou para ser eleito em primeiro turno.A eleitora Fabiana da Costa, 39, que mora em São Paulo, diz não se importar que seu voto nulo acabe beneficiando um candidato que ela não apoie. “Medo a gente tem do futuro, mas eu sinceramente pretendo anular mesmo. Não confio em nenhum dos que estão aí.”Desempregada e com uma filha de 10 meses, Fabiana se diz desiludida com o cenário político atual —e afirma que só irá até a seção eleitoral no dia do pleito para não ter complicações com o título de eleitor quando conseguir um trabalho.Para o vigilante Reinaldo Dantas, 54, de Carapicuíba (SP), no entanto, o voto nulo será uma forma de protesto. Ele, que já anulou nas eleições municipais de 2016, quer repetir agora a sensação de sair da seção eleitoral “de cabeça erguida”.“Eu não vejo nenhum plano de governo a favor da nação. Eu gostaria que todo mundo desse uma resposta nas urnas”, afirma Dantas.Segundo o último Datafolha, mais da metade dos que declararam votar branco ou nulo continuam com esta opção no segundo turno, em todos os cenários apresentados.No universo total, o cenário de segundo turno que teria menos votos nulos ou brancos (15%) é uma eventual disputa entre Bolsonaro e Ciro Gomes (PDT). Em três outros cenários, o número de votos em nenhum candidato chega a 25%: quando Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede) ou Ciro enfrentam Haddad.Além das mulheres e eleitores mais velhos e do interior, o voto nulo ou branco faz mais sucesso entre quem tem formação até o ensino médio e renda mensal de até dois salários mínimos (47% dos que anulam ou votam branco têm esse perfil).Dentro do grupo, 73% também dizem não ter partido de preferência e 28% rejeitam todos os candidatos. Bolsonaro, Marina e Haddad são os menos populares entre os que pretendem anular, com 39%, 20% e 16% dizendo que nunca votariam neles, respectivamente.Ainda não está claro o quanto a oficialização da candidatura de Haddad, na última semana, poderia impactar nos próximos dias no número de nulos e brancos. No entanto, 55% dos que declaram esse voto responderam que não apoiariam um candidato indicado pelo ex-presidente Lula.Outra peculiaridade das eleições deste ano é a alta parcela de indecisos a um mês das eleições. Na resposta espontânea, quando o entrevistador não mostra ao entrevistado a lista de candidatos, 32% disseram não saber em quem vão votar. Em 2014, esse índice era de 29% no mesmo período.“Isso revela um comportamento desta eleição, de eleitores mais cautelosos, que esperam para decidir mais para a frente”, diz Paulino. DEIXE UMA MENSAGEM Cancel ReplyYou must be logged in to post a comment.