Marina Silva (Rede) gosta de ressaltar, sempre que pode, que sua profissão é professora – ela fez carreira na sala de aula antes de chegar à política, nos anos 1990.
E será com rigor acadêmico que ela pretende tratar nomeações para cargos de confiança, se sair vitoriosa de sua terceira campanha presidencial.

Seu programa de governo defenderá uma espécie de banca de seleção para candidatos. Indicados para postos estratégicos na administração federal terão que exibir currículo compatível com a função pleiteada, capacidade de exercer o trabalho e ficha limpa.

Funcionários de carreira terão prioridade, por exemplo, em ministérios, estatais e agências de regulação.

Gesto arriscado para a relação do Planalto com o Congresso, o combate à prática de trocar cargos por apoio político será uma evidência concreta do discurso de Marina contra o “toma lá, dá cá” que ela diz imperar no governo.

Indicações de deputados e senadores, por exemplo, poderiam continuar acontecendo. Mas os apadrinhados políticos teriam que passar pela mesma triagem imposta a candidatos de perfil técnico.

A proposta, que retoma ideia apresentada superficialmente por Marina em 2010 e em 2014, é criar comitês de busca para recrutar pessoas com qualificação, nos moldes do que faz o setor privado.

O entendimento agora é o de que a Operação Lava Jato, da qual ela é entusiasta, escancarou a necessidade de aperfeiçoar nomeações para cargos ao revelar o loteamento de diretorias da Petrobras.

No mês passado, a líder da Rede protestou contra a decisão do governo Michel Temer (MDB) de oficializar uma acomodação política na presidência do ICMBio (instituto federal de proteção ambiental).

Diante de uma série de críticas dentro e fora do órgão, o Planalto recuou da nomeação de um cientista político indicado pelo Pros que não tinha familiaridade com o setor.

A pré-candidata defende o que chama de presidencialismo de coalizão, modelo que reuniria os melhores de cada partido. Ela diz que há bons quadros em todos eles e que “os homens e mulheres de bem” não se furtariam a compor uma eventual gestão sua.

Detalhes do novo método de nomeação ainda são discutidos pela ex-senadora e pela equipe que a auxilia na elaboração do plano de governo.

Marina conta com um grupo da Rede e dezenas de colaboradores externos que ajudam a formular propostas em diversas áreas, da economia à segurança pública, da educação à política energética.

O trabalho é coordenado pelo ambientalista João Paulo Capobianco, assessor da presidenciável desde a gestão dela no Ministério do Meio Ambiente, no governo Lula (PT).

As regras que endurecem os critérios de indicação constam de versões preliminares do documento, que será publicado possivelmente antes do primeiro turno da eleição.

Procurada, a campanha da presidenciável confirmou à reportagem que a proposta fará parte do programa, mas não forneceu mais informações.

Antes do plano completo, com propostas e suas minúcias, deve vir a público um texto mais sucinto, com diretrizes que a campanha encampará. O resumo deve ser anunciado nas próximas semanas.

A decisão sobre o timing da divulgação, segundo um dos autores do programa, tem a ver com um aprendizado das campanhas anteriores: evitaria municiar prematuramente adversários em busca de motivos para atacar a candidata.

O entorno da ex-senadora considera que Marina apanhou muito no passado e que acabou gastando tempo demais explicando detalhes de propostas que só deveriam ser discutidas a fundo quando ela estivesse na Presidência.

Em 2014, duas correções foram feitas em seu plano de governo menos de 24 horas após a divulgação. O ponto mais polêmico, rejeitado por apoiadores do meio evangélico, envolvia a defesa da união de pessoas do mesmo sexo.

Na época, a campanha justificou a exclusão da proposta de casamento igualitário dizendo que houve “falha processual na editoração” do texto, mas reiterou que a ex-senadora é defensora dos direitos civis da comunidade LGBT.

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