Até o final da tarde de sábado (10), a praça da Piedade estará ocupada pelas 50 barracas do Movimento Sem Terra (MST) que juntas esperam vender cerca de 80 toneladas de alimentos orgânicos. A 3ª Feira Estadual da Reforma Agrária conta com uma variedade de produtos oriundos de assentamentos e acampamentos de dez regiões do estado da Bahia. O evento traz ainda expositores de artesanato, barracas de comidas regionais e debates sobre temas referentes à reforma agrária e a disseminação do consumo de alimentos livres de agrotóxico.

De passagem pela praça, o aposentado Ronaldo Almeida, 72 anos, saiu com as sacolas cheias. “Não vim pensando em comprar nada, mas quando vi os produtos acabei levando cacau, maracujá, aipim, jenipapo, pimenta”, descreveu Almeida. Ele ainda elogiou os preços e a qualidade dos hortifrútis. “Viajo muito pelo interior e sempre vou nas feiras, e os preços daqui estão muito em conta”.

A assentada Vera Lúcia dos Santos, 48, conta que a baixa dos preços dos alimentos orgânicos só tem sido possível graças aos investimentos na lavoura que acarretaram em aumento de produção. Membro do assentamento São Sebastião de Utinga, na cidade de Wagner, no Centro-Sul baiano, Vera explica que após a irrigação muita coisa mudou no assentamento.

“Vendemos umas cabras para poder comprar uma bomba e finalmente instalar a irrigação. Desde lá nossa produção aumentou muito e se hoje estamos com todos esses produtos aqui é porque vencemos a seca. Sem esse recurso não daria”, disse Vera.

O pré-assentamento Abril Vermelho, da cidade de Juazeiro, no Norte do estado, levou para a feira 11 produtos diferentes, que incluem duas espécies de melão, batata doce, temperos e grande variedade de folhagens. A barraca ainda possui mudas de árvores frutíferas.

Para o representante da Bahia na direção nacional do MST, Evanildo Costa, a quantidade e diversidade de produtos cultivados nos assentamentos mostra o potencial dessas propriedades de uso coletivo e desmistifica a máxima de que a agricultura familiar é incapaz de produzir em larga escala.

“Nós trouxemos alimentos de qualidade, livres de agrotóxico e em grande quantidade. Porque nós temos como princípio trazer saúde não apenas para quem vai consumir os alimentos, mas também para o trabalhador e para a terra que recebe a semente”, explicou Costa.

O agricultor Gildásio Silva, 66, integrante do assentamento Luanda, em Itajuípe, no Sul da Bahia, conta que nos 408 hectares de terra onde vivem 50 famílias, além de pupunha, raízes, cacau e outras variedades frutíferas, são produzidos ainda chocolate, licor e leite, que é vendido para uma fábrica de iogurte do município.

Apesar da fartura, Gildásio relata que há cerca de dois anos um bando de caititus (porcos do mato) tem provocado prejuízos na região. “Não sabemos de onde eles apareceram, mas eles comem tudo. Teve uma parte da lavoura que tivemos até que abandonar”.

Outro problema ainda enfrentado pelos assentamentos é a falta de apoio governamental. De acordo com a assentada Domingas Farias dos Santos, 53, atual coordenadora do MST na região da Chapada Diamantina, o desinteresse em relação à reforma agrária atrasa a produção de alimentos orgânicos.

“O atual governo não tem interesse em desenvolver as pequenas propriedades, em função disso nosso trabalho termina sendo pouco valorizado e o potencial de produção que nós temos fica escondido”, descreveu Domingas. Ela acrescentou que feiras como a realizada na praça da Piedade são fundamentais para fomentar a agricultura familiar.

Orgânicos ainda custam caro
O consultor credenciado do Sebrae, Marcos Suel Lima Souza, explica que a redução nos preços dos orgânicos só virá com o aumento do consumo. Para isso, é necessário que haja investimento em tecnologia e sejam criadas estratégias que reforcem a cadeia produtiva dos orgânicos.

“Os alimentos orgânicos ainda custam até 300% mais do que os convencionais, mas isso pode mudar caso esses pequenos produtores recebam apoio logístico, de divulgação e sejam capacitados para atuar no mundo do empreendedorismo”, afirmou.

De acordo com Souza, o mapeamento das feiras é uma outra alternativa para solucionar os gargalos que ainda existem na cadeia produtiva dos orgânicos. “A população quer saber onde estão acontecendo as feiras, o que elas estão vendendo. Então é preciso articular o setor, ligando produtores e consumidores de modo a evitar a presença dos intermediários na negociação”.

Outro ponto levantado pelo consultor é a certificação dos produtos. Segundo ele, é necessário que sejam disseminadas as informações referentes a certificação, sobretudo no que diz respeito aos selos que podem ser utilizados, para que a população não seja enganada e não haja nenhum tipo de prejuízo para os produtores que trabalham sério.

Confira os preços de alguns produtos da 3ª Feira Estadual da Reforma Agrária
Amendoim: R$ 3,00/1 litro
Milho: R$ 2,00/4 espigas
Coentro: R$ 2,00
Aipim: R$ 3,00
Feijão verde: R$ 5,00/1 litro
Alface sinaleira: R$ 2,00
Goiaba: R$ 4,00/Kg
Batata: R$ 3,00/Kg
Tomate: R$ 2,00/10 unidades
Cebola: R$ 2,00/pacote
Pimentão: R$ 2,00/6 unidades
Alho: R$ 0,50/unidade
Maracujá: R$ 2,00/pacote
Abóbora: R$ 5,00/unidade
Maxixe: R$ 2,00/pacote
Batata doce: R$ 2,00/Kg
Coco: R$ 2,00/unidade
Cacau: R$ 5,00/2 unidades
Jaca: R$ 10,00/unidade
Couve: R$ 3,00
Conserva de Pimenta: R$ 10,00
Banana da terra: R$ 5,00/a penca
Licor: R$ 15,00/1 garrafa

Associação das Donas de Casa também promove feira orgânica
Outra opção para quem busca consumir alimentos livres de agrotóxico é a feira promovida pela Associação das Donas de Casa, que acontece no sábado (10), a partir das 8h, na Praça da Bíblia Sagrada, do Vale do Ogunjá.

O evento reunirá ao todo 16 expositores que venderão desde cogumelos até mel, ovos, frutas e folhagens. De acordo com a presidente da associação, Celma Magnavita, o evento tem por objetivo mostrar a importância do consumo de alimentos orgânicos e reforçar o potencial socioambiental da agricultura familiar.

“Todos os produtores que participarão da feira são certificados e trarão produtos de bastante qualidade”, disse Celma. Além das barracas, o evento ainda contará com degustação de alimentos orgânicos e palestras sobre empreendedorismo melhorias das práticas de produção para os pequenos produtores.

Produtos orgânicos podem ser encontrados também nas Feira Agroecológica da Ufba, que acontece toda sexta-feira, no campus Ondina, a partir das 7 até 13 horas, em frente ao Restaurante Universitário. Outra opção é a Feira do Museu de Arte da Bahia, Corredor da Vitoria, que rola às quintas-feiras das 14 às 18 horas.

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