Em meio à escalada da crise diplomática entre os governos do Brasil, liderado por Luiz Inácio Lula da Silva, e Israel, sob o comando de Binyamin Netanyahu, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, prepara o envio de seu principal auxiliar, o secretário da Casa Civil, Arthur Lima, em uma missão oficial a Israel. A iniciativa é vista como um movimento de contraponto às posições adotadas pelo governo federal em relação ao país do Oriente Médio. A viagem está sendo articulada pela Frente Parlamentar em Defesa da União entre Brasil e Israel, instalada na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) no final do ano passado por deputados alinhados a Tarcísio.

O deputado estadual Danilo Campetti, coordenador da frente, declarou que a missão tem como objetivo “levar a manifestação de que a maioria da população de São Paulo e do Brasil está ao lado de Israel” e servir como resposta às “manifestações desastrosas e equivocadas do presidente Lula” sobre o país. O convite partiu do Consulado de Israel em São Paulo e prevê agendas em Tel Aviv e Jerusalém, com visitas a locais que foram atingidos pelo ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023.

O governo paulista enviará, além de Lima, dois técnicos: o subsecretário de Assuntos Diplomáticos, Samo Sérgio Gonçalves Tosatti, servidor de carreira do Itamaraty cedido ao estado, e seu auxiliar Bruno Berkiensztat. A comitiva da Alesp será composta por sete deputados, sendo seis bolsonaristas – Gil Diniz (PL), Tenente Coimbra (PL), Lucas Bove (PL), Paulo Mansur (PL), Dani Alonso (PL) e Capitão Telhada (PP) – e um não bolsonarista, Oseias de Madureira (PSD), que é pastor evangélico. O deputado federal Capitão Augusto (PL-SP), marido de Dani Alonso, também integrará a comitiva.

Arthur Lima é considerado um dos auxiliares mais leais de Tarcísio e tem sido o responsável pela articulação internacional do governo paulista desde a extinção da Secretaria de Relações Internacionais em maio de 2024. Lima e Tarcísio possuem uma longa relação, que remonta à entrada conjunta na Escola Preparatória de Cadetes do Exército em 1992, e ambos se formaram na mesma turma da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). Lima também atuou no Gabinete de Segurança Institucional (GSI) entre 2008 e 2011, durante o governo Lula.

A movimentação de Tarcísio ocorre em um momento de alta tensão entre Brasília e Tel Aviv. O presidente Lula tem classificado os ataques israelenses à Faixa de Gaza como genocídio, com mais de 60 mil mortes registradas segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza. Essa tensão se acentuou com a decisão do governo israelense de retirar a indicação de Gali Dagan para o cargo de embaixador em Brasília, rebaixando as relações diplomáticas. No mesmo dia, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, acusou Lula de ser “antissemita declarado”, publicando uma montagem que retrata o presidente brasileiro como marionete do líder iraniano. Em resposta, o Itamaraty classificou a mensagem como “grosserias inaceitáveis contra o Brasil e o presidente Lula”.

Em nota oficial, a Casa Civil paulista informou que Arthur Lima foi convidado pelo Consulado-Geral de Israel em São Paulo para integrar a delegação de membros e apoiadores da Frente Parlamentar em Defesa da União Brasil e Israel da Alesp. A pasta reiterou que o objetivo da missão é fortalecer as relações institucionais e promover o intercâmbio de experiências e boas práticas entre as autoridades israelenses e brasileiras, e que todas as despesas da viagem serão custeadas pelo Estado de Israel. O Itamaraty foi contatado, mas não se manifestou até a publicação desta matéria.