O governo brasileiro adotou uma postura de cautela em resposta à escalada retórica por parte da Venezuela. Em uma nota oficial divulgada na última sexta-feira (1º), o Itamaraty expressou surpresa com o tom ofensivo adotado por autoridades venezuelanas em relação ao Brasil e seus símbolos nacionais.

O documento ressalta que a “opção por ataques pessoais e escaladas retóricas, em substituição aos canais políticos e diplomáticos, não corresponde à forma respeitosa com que o governo brasileiro trata a Venezuela e seu povo”.

A tensão entre os países se intensificou após o Brasil não reconhecer a vitória do ditador Nicolás Maduro nas eleições de julho, exigindo que o regime vizinho apresentasse as atas eleitorais. No entanto, Caracas se negou a divulgar os documentos, apoiando-se na certificação do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ), também controlado pela ditadura, quase um mês após o pleito.

Amostras das atas de votação verificadas por organismos independentes indicam que o verdadeiro vencedor foi o opositor Edmundo González, atualmente exilado na Espanha após um mandado de prisão. González foi considerado o plano C da oposição venezuelana, uma vez que María Corina Machado (plano A) foi declarada inelegível e Corina Yoris (plano B) alegou ter sido impedida pelo regime de registrar sua candidatura.

Além da crise eleitoral, as relações entre Brasília e Caracas se deterioraram ainda mais após o veto brasileiro à entrada da Venezuela como parceira do Brics. Durante a cúpula do bloco em outubro, os líderes dos países-membros definiram 13 novas nações convidadas, mas a adesão da Venezuela foi barrada pela delegação brasileira. Até mesmo Vladimir Putin reconheceu que a entrada da Venezuela dependeria do aval do Brasil.

Em resposta ao veto, Maduro acusou o Itamaraty de estar alinhado com o Departamento de Estado dos EUA e chamou um diplomata brasileiro de fascista. Posteriormente, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela convocou seu embaixador em Brasília para consultas após declarações de autoridades brasileiras, incluindo Celso Amorim, qualificado como “mensageiro do imperialismo norte-americano”.

A convocação do embaixador é um sinal claro de descontentamento e pode ser um passo inicial rumo ao rompimento das relações bilaterais.

A situação ganhou contornos ainda mais grotescos quando a Polícia Nacional Bolivariana, sob controle chavista, publicou nas redes sociais uma imagem com a silhueta do presidente Lula e a bandeira brasileira, acompanhada da mensagem de que Caracas “não aceita chantagens de ninguém”. A postagem incluía a hashtag “Quem mexe com a Venezuela se dá mal”, reforçando a ideia de soberania nacional. Embora a publicação tenha sido apagada na sexta-feira, sua mensagem deixou claro um recado ao governo brasileiro.

Na nota oficial emitida pelo Itamaraty, reafirma-se que “a opção por ataques pessoais e escaladas retóricas não corresponde à forma respeitosa com que o governo brasileiro trata a Venezuela e seu povo”, concluindo que “o governo brasileiro permanece convicto de que parcerias devem ser baseadas no diálogo franco, no respeito às diferenças e no entendimento mútuo”.