As denúncias contra a Associação dos Policiais e Bombeiros e de seus Familiares do Estado da Bahia (Aspra), comandada na Bahia desde a fundação em 2009 pelo deputado estadual Marco Prisco (PPS), vão muito além da suposta ausência de prestação de contas e falta de transparência na gestão da entidade. As suspeitas de fraudes nas eleições da associação renderam uma ação civil pública movida pelo Ministério Público (MP) contra Prisco e dois diretores no início deste ano. Entretanto, há investigação em curso na promotoria, assim como há um inquérito em andamento também no Departamento de Repressão e Combate ao Crime Organizado (Draco), órgão da Polícia Civil da Bahia, para apurar suposto crime de lavagem de dinheiro peculato e associação criminosa.

BNews teve acesso com exclusividade a trechos do inquérito existente no Draco. Os documentos obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação mostram relatos de ex-diretores da Aspra que já foram ouvidos pelos investigadores. Apesar das suspeitas de que havia desvio de dinheiro na associação de policiais para campanhas do deputado Prisco, os depoimentos de ao menos três dirigentes citam repasses de dinheiro via caixa dois para interesses eleitorais do coordenador originadas de pessoas externas ao grupo.

Em seu depoimento, Mário Carneiro Laranjeira Filho, um dos fundadores da Aspra ao lado de Prisco, diz que presenciou o deputado, à época vereador de Salvador, e demais diretores da associação romperem um acordo com o Major Tadeu, que pretendia disputar uma vaga na Câmara dos Deputados. No entanto, com o rompimento do acordo, segundo o ex-diretor, a Aspra passou a apoiar a candidatura de Bebeto Galvão, que é do mesmo partido de Major Tadeu, o PSB. Laranjeira Filho conta ainda que Bebeto Galvão teria pago aproximadamente R$ 800 mil a Prisco pelo apoio da corporação. Parte do dinheiro, continuou o ex-diretor, era repassado para a campanha de Josafá Ramos, que teria sido criada para “dissimular o apoio a Bebeto Galvão e prejudicar a campanha de Major Tadeu”.

O ex-diretor Jorge Luís Costa, por sua vez, conta que esteve pessoalmente com Prisco na sede do Sindicato do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Salvador (Setps), hoje denominado Integra. Lá, “Prisco entrou sozinho de mãos vazias e saiu cinco minutos depois com uma sacola tipo ecológica com o dinheiro”. Costa relata que esteve no endereço com o deputado para pegar dinheiro apenas uma vez e não soube informar aos investigadores se o coordenador da Aspra esteve no local outras vezes para pegar outras quantias. Entretanto, o ex-dirigente ressaltou que antes da busca do dinheiro, esteve no sindicato duas vezes, ocasiões em que foi informado por Prisco que estava negociando doações para a campanha.

Sem entrar em maiores detalhes, o ex-diretor Marcos Paulo Santos de Souza também falou sobre repasses de recursos de terceiros ao deputado Prisco. Souza disse, em seu depoimento, que ouviu falar que a campanha “foi financiada” por Bebeto Galvão, João Gualberto, Major Tadeu e até o sindicato da Guarda Municipal.

A reportagem consultou a prestação de contas do deputado Soldado Prisco no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e não localizou doações oriundas das pessoas e entidades citadas pelos ex-diretores. O extrato da campanha do parlamentar aponta que sua eleição teve uma receita de R$ 84.195,00.

O outro lado

O deputado estadual Marco Prisco nega as acusações dos ex-colegas da Aspra, atribui as denúncias ao ano eleitoral e afirma que os acusadores terão que apresentar provas do que dizem aos órgãos de investigação. “Esse processo tem dois anos e meio. Delação sem a prova, eles podem falar o que quiserem, é um problema deles. Depois eles vão ter que provar isso, porque vai ter o revés. A quem acusa, cabe o ônus da prova”, disse o parlamentar ao BNews.

Prisco diz que não está preocupado com as denúncias de irregularidades em sua campanha e na associação em que tem poderes desde a fundação. “Estou tranquilo, porque o que foi pedido, já foi entregue. Aliás, sequer pedido foi, foi entregue sem pedido, voluntariamente. Inclusive, foi oficializado, não foi entregue de boca. Foram entregues através de ofício: sigilo telefônico, conta bancária, tudo, sem pedir nada”, diz Prisco, fazendo referência às acusações que enfrenta de falsidade ideológica nas eleições da direção da entidade.

Questionado se teve apoio dos políticos e sindicatos citados pelos ex-diretores, Prisco se limitou a dizer que todo seu apoio está declarado na prestação de contas. “Se eles estão dizendo que tem [caixa 2], que provem”, reiterou.

“A gente entende o que é isso aí. Está muito bem claro qual é esse jogo aí. Mas estou tranquilo. Vamos esperar o revés da história”, pondera, para dizer que a revanche contra seus acusadores já está a caminho: “Essas pessoas (ex-diretores) estão sendo processadas por isso mesmo (acusação sem provas). Inclusive, esse processo está andando muito mais adiantado do que o deles lá, porque não provaram nada. No processo meu contra eles, estão usando de todos os subterfúgios, diferentemente de mim, que apresentei tudo. Eles estão usando de todos os subterfúgios, não compareceram à sessão, colocaram atestado médico, entraram com recursos dizendo que a Vara não era competente. Se falou, porque não encara na frente do juiz?”.

“É ano eleitoral, vai aparecer muito mais. Isso tem dois anos e meio. Porque não apareceu no ano passado? Vai aparecer muito mais, tem problema não”, minimizou Prisco.

A reportagem procurou o Integra, mas foi informada por meio da assessoria de imprensa que a direção não tem interesse em se manifestar sobre o assunto. O deputado Bebeto Galvão não foi localizado. Sua assessoria de comunicação informou que o parlamentar estava em viagem na tarde desta sexta-feira (12) e que retornaria aos contatos, mas não houve retorno até o fim da manhã deste sábado (13).

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