Apesar do discurso oficial de que o Planalto não tem mais pressa para votar a denúncia contra Michel Temer, auxiliares do presidente admitem, nos bastidores, que queriam “liquidar a fatura” da denúncia na Câmara ainda em julho porque temem o “fator Eduardo Cunha”.

Interlocutores do presidente avaliam que uma eventual delação de Cunha, que tem manifestado a investigadores a disposição de aderir a uma colaboração premiada, pode selar o destino do presidente da República na Casa.

Temer tenta se descolar publicamente de Cunha, mas ele e o deputado cassado – preso,atualmente em Curitiba pela Operação Lava Jato – mantinham uma relação de proximidade nos bastidores. Em 2012, por exemplo, Cunha foi designado por Michel Temer para ajudar a campanha do candidato do PMDB à prefeitura de São Paulo, o ex-deputado Gabriel Chalita.

Em 2014, Cunha participou de negociações que ajudaram a campanha a vice de Temer, na chapa com Dilma Rousseff.

Além disso, no início desta semana, antes da mudança de estratégia do governo, auxiliares de Temer lembravam reservadamente que Cunha também atuou, em 2014, para ajudar deputados do PMDB e de outros partidos com arrecadações financeiras para as campanhas dos parlamentares.

Na avaliação de aliados de Temer, a delação de Cunha teria efeito duplo, já que pressionaria a situação do presidente e também os “juizes” da denúncia: os deputados que temem estar na mira do ex-presidente da Câmara, preso pela Lava Jato.

A eventual delação de Cunha não é a única que preocupa Temer. As revelações de Lúcio Funaro, doleiro preso e operador do PMDB, também assombra o governo. Mas, na aposta de ministros, só um dos dois fechará delação: ou Cunha ou Funaro.

Por isso, o governo queria a votação da denúncia em julho, para não ficar vulnerável no recesso parlamentar. Mas foi forçado a adiar, sem conseguir mobilizar deputados para atingir o quórum exigido por Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, para iniciar a sessão: 342 votos, como é o entendimento da Casa.

O governo ainda tentou uma manobra – como fez na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) com as trocas de integrantes, para que Maia abrisse a sessão da denúncia com 257 deputados –, mas o presidente da Casa rejeitou.

 

Maia disse a interlocutores de Temer que uma coisa era ajudar o governo, outra, se “suicidar” politicamente, porque uma eventual vitória do governo nessas condições, driblando o regimento, poderia cair na sua conta.

Após a negativa de Maia, o Planalto passou a dizer, então, que admitia deixar a denúncia para agosto – o que se confirmou no final do dia desta quinta-feira (13).

Na reunião de líderes da base e oposição na noite desta quinta, Maia chegou a dizer que, se todos acordassem, colocaria para votar a denúncia na segunda-feira (17).

 

Líderes do governo foram ao Palácio do Planalto. Consultado, Temer mandou marcar para o dia 2 de agosto, como propôs inicialmente a oposição.

Após a reunião, Temer agradeceu a Maia pela condução do processo que definiu a data da votação da denúncia.

Nos bastidores, porém, Temer e Maia estão com as relações estremecidas. O presidente da República segue repetindo a aliados que a postura de neutralidade de Maia “não basta”, no relato dos deputados da base.  No que Maia retruca, afirmando que vai “ajudar sem atrapalhar” o processo. E só.

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