POR UM CINEMA TERRITORIAL E SUSTENTÁVEL Redação 19 de novembro de 2025 Destaque, Notícias, ultimas notícias, ÚLTIMAS NOTÍCIAS Gileaide Silva Costa Amaral (Professora de História, Mestra em Sociologia e Produtora de Audiovisual)No Médio Sudoeste da Bahia, nasce, por necessidade de expressão, um movimento silencioso que fez brotar uma cena de cinema experimental e revolucionária, capaz de alterar o mapa da produção cinematográfica regional. O coletivo Puro Cinema Puro, surgido em 2021 em meio ao isolamento da pandemia, transformou a urgência criativa de artistas de Itororó e Itapetinga em uma cena audiovisual plural, ousada e profundamente enraizada no território. O que começou como um simples book trailer tornou-se um fenômeno regional: produtoras independentes foram criadas, empresas e obras passaram a ser registradas na ANCINE, conteúdos foram exibidos em festivais dentro e fora da Bahia, e mais de vinte curtas — produzidos com recursos próprios ou por meio de editais da LPG (Lei Paulo Gustavo) e da PNAB (Política Nacional Aldir Blanc) — passaram a circular em escolas, praças, centros culturais e plataformas digitais, disponíveis também nas redes sociais e nos canais @purocinemapuro e @CatrupiaFilmes, no YouTube.Agora, o coletivo amplia seu horizonte. Está em pré-produção de um longa-metragem de ficção inteiramente realizado por artistas locais, reafirmando uma proposta estética que se consolida como marca do grupo: produções minimalistas, de baixo custo, sustentáveis e em diálogo com as identidades culturais de cidades de até 50 mil habitantes. Trata-se de um cinema que nasce da vida comum, das paisagens naturais, das falas e dos corpos que compõem o território — um cinema que, diante do outro, redescobre o próprio “eu”. A lógica que sustenta esse processo segue os princípios da economia solidária, criativa, circular e sustentável. As equipes são formadas por moradores da região; as locações são ambientes naturais, sem impacto ambiental; e os recursos, ainda escassos, circulam no próprio comércio local, fortalecendo a economia territorial. O resultado é uma estética inédita, que combina intimismo e identidade coletiva, mas dialoga com outras realidades e questiona a concentração histórica da produção audiovisual nos eixos Sul e Sudeste do país.Apesar da diversidade e da potência — artistas negros, brancos, pardos, indígenas, quilombolas, cis, trans, LGBTs, pessoas com deficiência, jovens e idosos — o coletivo ainda enfrenta o desafio da invisibilidade. Precisa de apoio para ampliar a distribuição, alcançar TVs, streamings e salas de cinema, e consolidar uma filmografia que já conquistou o público. O Puro Cinema Puro demonstra que novas estéticas são possíveis quando o território deixa de ser margem e se torna origem. Falta agora que governos, instituições e mecenas enxerguem o que o povo já reconheceu e aplaudiu.