Na noite desta quarta-feira (16), o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos, liderado pela secretária Kristi Noem, anunciou que Harvard poderá perder o direito de matricular estudantes estrangeiros se não atender às exigências do governo de Donald Trump.

Em um comunicado, Noem declarou que a universidade também terá as bolsas concedidas pelo órgão rescindidas, totalizando mais de US$ 2,7 milhões. Além disso, foi enviado um ofício à instituição exigindo informações sobre o que ela classificou como “atividades ilegais e violentas” associadas a detentores de visto de estudante estrangeiros até o dia 30 de abril.

“No caso de Harvard não conseguir comprovar que está em total conformidade com os requisitos de relatório, a universidade perderá o privilégio de matricular estudantes internacionais,” afirmou Noem. “Com um patrimônio de US$ 53,2 bilhões, Harvard pode financiar seu próprio caos — o Departamento de Segurança Interna não o fará.”

Um porta-voz da universidade afirmou à agência Reuters que Harvard estava ciente da carta sobre o cancelamento das bolsas e que a instituição mantém sua posição em relação ao assunto.

Na última segunda-feira (14), Harvard já havia rejeitado as demandas do governo republicano. O reitor Alan Garber destacou: “A universidade não renunciará à sua independência nem abrirá mão de seus direitos constitucionais. As exigências do governo ultrapassam os limites do poder federal.”

O comunicado de Noem representa uma escalada na cruzada do governo republicano contra o ensino superior americano, justificada pela alegação de que as universidades permitiram atos antissemitas durante protestos contra Israel na guerra na Faixa de Gaza. Noem afirmou que existe uma “ideologia anti-americana e pró-Hamas” nas instituições.

Nas últimas semanas, o governo tem exigido ações rigorosas dessas universidades como condição para evitar a retirada de subsídios, incluindo auditorias das opiniões de alunos e professores — e Harvard foi a primeira grande instituição a recusar tais exigências.

Como retaliação, o governo anunciou o congelamento de US$ 2,2 bilhões (quase R$ 13 bilhões) em fundos federais e ameaçou retirar benefícios fiscais da universidade. Além disso, exigiu um pedido formal de desculpas da administração da instituição.

Mais cedo na quarta-feira, Trump voltou a criticar Harvard em sua plataforma Truth Social: “Harvard nem sequer pode ser considerada um lugar decente para aprendizado e não deveria figurar entre as melhores universidades do mundo. É uma piada que ensina ódio e estupidez e não deve receber fundos federais.”

Diferentemente de Harvard, a Universidade Columbia cedeu parcialmente à pressão do governo e aceitou algumas demandas relacionadas ao controle do campus, incluindo autorização para detenções dentro dos limites universitários e intervenções na gestão do departamento de estudos sobre Oriente Médio.

Essa decisão gerou críticas no meio acadêmico, com opositores argumentando que ela encoraja o governo a intensificar seus ataques às instituições educacionais.

Trump tem retratado os manifestantes como ameaças à política externa americana, acusando-os de antissemitismo e simpatia pelo Hamas. Os manifestantes, incluindo grupos judaicos, afirmam que o governo confunde a defesa dos direitos palestinos com apoio ao extremismo. Por sua vez, Harvard assegura que tem trabalhado para combater o antissemitismo e outras formas de preconceito em seu campus, enquanto preserva as liberdades acadêmicas e o direito ao protesto.

As exigências atuais se aplicam igualmente a todas as instituições: cortes em programas e departamentos que promovam diversidade ou abordem uma interpretação crítica da história americana — incluindo temas como extermínio indígena, escravidão e segregação.

Essas demandas estão alinhadas com uma das ideias centrais do trumpismo que ressurgiu nas eleições de 2024: a crença de que instituições culturais elitistas como universidades foram dominadas por esquerdistas sob o pretexto do “marxismo cultural”, afastando-se dos interesses do cidadão comum e prejudicando o progresso nos Estados Unidos.