O deputado federal Neto Carletto (PP), por meio de Projeto de Indicação (INC), sugeriu mais rigorosidade da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a venda de medicamentos com a substância “paracetamol”. Em documento, o parlamentar solicitou a obrigatoriedade de prescrição médica e citou que a população brasileira possui o costume de “automedicação”, o que, segundo ele, favorece a ocorrência de intoxicações.

No texto, Carletto também cita matérias jornalísticas que relacionaram o uso do paracetamol com as ocorrências de danos ao fígado, inclusive com falência hepática. Segundo o deputado, a venda dos medicamentos sem a receita médica favorece o “consumo automedicado e não racional” dos remédios que contém a substância.

“Apesar de todo esse potencial tóxico e de sua gravidade e mesmo com a mídia produzindo alertas acerca do potencial tóxico do paracetamol, as apresentações farmacêuticas com essa substância continuam sendo comercializadas no Brasil de forma livre, com a dispensação realizada independentemente da prescrição por um profissional de saúde”, argumenta o deputado.

“Diante dessas constatações, seria de bom alvitre que a Anvisa passasse a exigir um maior controle sobre a comercialização dos medicamentos com o paracetamol na formulação final, com a exigência de venda somente mediante prescrição por médico ou odontólogo, profissionais que podem realizar um acompanhamento da utilização do produto e, juntamente com a participação do farmacêutico responsável pela dispensação, orientar o paciente sobre doses máximas, posologia, forma de consumo e sinais para interrupção imediata do uso”, completou.

Em dezembro do ano passado, um artigo do Centro Universitário Una Bom Despacho, intitulado de “Perigo da automedicação irresponsável do Paracetamol: uma revisão de literatura”, realizou um alerta sobre o uso indevido do medicamento, levando em consideração a cultura de automedicação no Brasil. No estudo, os pesquisadores trouxeram que, caso a substância seja ingerida em níveis acima do recomendado, pode desencadear justamente em intoxicações e problemas hepáticos.

“Ingestão de paracetamol em altas doses, o principal evento foi hepatotoxicidade centro lobular dependente do sistema em humanos e animais de laboratório. Na intoxicação por acetaminofeno, forma-se um metabólito altamente reativo que se acumula em excesso da capacidade dos hepatócitos de inativar a via. O metabólico é particularmente tóxico para as mitocôndrias, desacoplando a cadeia respiratória, levando ao estresse oxidativo e disfunção mitocondrial. A disfunção dessas organelas, juntamente com a fragmentação nuclear associada, acaba levando à necrose dos hepatócitos. Essas lesões no fígado levam a alterações nos fatores de coagulação, um dos sistemas necessários para a biologia vascular humana”, disse o artigo.

Em maio de 2021, a Anvisa, por meio da Gerência-Geral de Monitoramento de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária (GGMON), realizou um alerta para o uso “indiscriminado” do paracetamol para tratar dos efeitos colaterais da Covid-19. Em comunicado, a entidade afirmou que a utilização indevida do medicamento poderia acarretar em diversos problemas de saúde.

“Anvisa alerta que o uso indiscriminado de paracetamol para alívio de dores e febre após a vacinação contra Covid-19 pode levar a eventos adversos graves, incluindo hepatite medicamentosa e morte. Portanto, o uso do medicamento deve ser feito com cautela, sempre observando a dose máxima diária e o intervalo entre as doses, conforme as recomendações contidas na bula, para cada faixa etária”, disse a Anvisa.