Filho de testemunha de caso Odebrecht na Colômbia é envenenado dias após morte do pai Redação 15 de novembro de 2018 Destaque, Política Apenas três dias após a morte de Jorge Enrique Pizano, testemunha-chave do escândalo de corrupção envolvendo a empreiteira brasileira Odebrecht na Colômbia, seu filho foi encontrado morto envenenado, informou a Procuradoria do país nesta terça (13).O arquiteto Alejandro Pizano, 31, morreu no domingo (11), horas após beber água de uma garrafa contaminada com cianureto que estava no escritório de seu pai, afirmaram os procuradores.O jovem morava em Barcelona e estava em Bogotá exatamente para participar do funeral do seu pai. Sua mulher, grávida de seis meses, ficou na Espanha.Pessoas próximas à família informaram à Procuradoria que após beber da garrafa, Alejandro disse que sentiu um gosto amargo e minutos depois apresentou uma forte dor estomacal, morrendo a caminho do hospital.Com isso, foi reaberta a investigação da morte do pai, que ocorreu na quinta (8) e foi inicialmente atribuída a um infarto -ele também sofria de câncer. Jorge denunciou o caso de corrupção na construção de uma estrada que envolve diversas autoridades, incluindo o atual procurador-geral.Segundo a rede de TV britânica BBC, o corpo de Jorge foi cremado, mas foram coletados tecidos que agora serão analisados para tentar descobrir realmente do que ele morreu.Em uma outra reviravolta, o canal de TV colombiano Noticias Uno exibiu na segunda (12) uma entrevista gravada em 2015 com Jorge que só deveria ser publicada quando ele morresse ou deixasse o país. A imprensa local afirmou que ele estava negociando para fornecer informações sobre o caso à Justiça americana em troca de proteção e poderia se mudar para os EUA.O caso envolve a construção da segunda parte da rodovia Rota do Sol, que deveria ligar a capital Bogotá à costa no Atlântico. A Odebrecht é acusada de ter pago propina a agentes públicos para ser a única empresa habilitada para participar da licitação da obra, em um contrato de US$ 1,7 bilhão (R$ 6,4 bilhões) para construir mais de 500 km de estrada, segundo a agência Reuters.No fim a obra foi tocada por um consórcio em que a empresa brasileira tinha 62%, tendo como sócio minoritário o Grupo Aval, controlado pelo empresário Luis Carlos Sarmiento, o homem mais rico do país.Jorge auditou as contas do consórcio e encontrou irregularidades nos contratos -por isso, virou testemunha no caso.Na entrevista publicada nesta segunda, ele afirmou que em agosto de 2015 procurou o então advogado Néstor Humberto Martínez, que prestava assessoria jurídica ao Grupo Aval, exatamente para avisar das irregularidades que tinha encontrado.Jorge e Martinez eram amigos de infância, segundo o engenheiro, que queria que o advogado repassasse as denúncias a Sarmiento.O problema é que desde 2016 Martinez é o procurador-geral do país, responsável por comandar a investigação do caso, e nunca tinha revelado publicamente que tinha recebido a denúncia.Na conversa entre os dois, que foi gravada por Jorge e também teve o áudio revelado pelo Noticias Uno, o engenheiro afirmou ter encontrado um desfalque de 24 bilhões de pesos colombianos (R$ 28,8 milhões) nas contas do consórcio.Na sequência, Martínez questionou se a verba teria sido usada com certeza para propina, mas Jorge afirmou que não conseguia confirmar isso.Em nota divulgada nesta quarta (14) após a revelação do áudio, o procurador-geral disse que o engenheiro desconfiava que o dinheiro na verdade seria desviado para o pagamento de paramilitares.No comunicado, Martínez defendeu sua atuação atuação no cargo e afirmou que foi em sua gestão que a investigação do caso avançou e que foi confirmada que a verba era para propina.Desde que o caso veio a público, no início de 2017, diversas pessoas foram detidas, entre elas o ex-vice-ministro dos Transportes, Gabriel García Morales (acusado de receber o equivalente a R$ 24,6 milhões) e o ex-congressista Otto Bula (R$ 17,45 milhões).Na investigação que corre nos EUA sobre a corrupção da Odebrecht na América Latina, a própria empreiteira declarou ter pago US$ 11 milhões (R$ 41,7 milhões) em propina e caixa dois na Colômbia, mas não está claro quanto desse valor é relativo a Rota do Sol e existe a desconfiança que o valor real seja maior.Há ainda denúncias de caixa dois para a campanha de diversos políticos, entre eles o ex-presidente Juan Manuel Santos (2010-2018), mas sem ligação direta com o caso da rodovia.As investigações, porém, estão atualmente paradas porque o o procurador encarregado do caso, Amparo Cerón, sofreu um acidente de trânsito durante suas férias e passou vários dias na UTI, e ainda está impedido de voltar ao caso. DEIXE UMA MENSAGEM Cancel ReplyYou must be logged in to post a comment.