Nos celulares dos aliados de Jair Bolsonaro (PSL) pululam vídeos de manifestações de apoio ao presidenciável em cidades do Nordeste: adesivaços, panfletagem, carreatas. Essa região do Brasil virou o novo objeto de desejo da campanha do capitão reformado do Exército, que acredita que uma possível vitória no primeiro turno passa por roubar votos dos adversários, especialmente do PT.

Nas próximas semanas, os filhos de Bolsonaro, os deputados Eduardo e Flávio, e outros aliados devem começar a colocar destinos nordestinos em seus roteiros de campanha. Em reunião nesta terça-feira (18), em São Paulo, eles se encontraram com uma produtora contratada pelo PSL e gravaram vídeos destinados a eleitores de estados como a Bahia.

“A surpresa virá do Nordeste. Essa falácia [do PT] dizer ‘o Nordeste é nosso’ porque fizeram um chiqueiro, trataram todo mundo como carneiro e porco, deram Bolsa Família e [dizem] ‘o povo é idiota’. Vocês vão ver como mudou essa nação com as redes sociais, que pode mostrar com clareza quem é quem. O Brasil vai presenciar a eleição no primeiro turno com a surpresa do Nordeste”, diz o senador Magno Malta (PR-ES), que foi cogitado para a vaga de vice de Bolsonaro e é um dos aliados mais próximos do candidato.

Luciano Bivar, fundador do PSL e apoiador da candidatura, mostra orgulhoso o vídeo de uma carreata pró-Bolsonaro da qual ele participou no sábado (15) em Garanhuns (PE), terra onde nasceu o ex-presidente Lula (PT). Sobre um caminhão de som, ele diz que o brasileiro quer se livrar “do socialismo e do comunismo”.

Julian Lemos, vice-presidente do PSL, mostra outro vídeo, gravado em João Pessoa, na Paraíba. O conteúdo é semelhante: uma longa fila de carros, bandeiras verde e amarelas e gritos de “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.

O deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS), coordenador da campanha, diz não acreditar em levantamentos de institutos de pesquisa. Ele afirma que se guia “por faro”, falando com pessoas na rua e com aliados nos diferentes estados. Ele passou a última semana conversando por telefone com correligionários do Nordeste e crava que Bolsonaro já tem o apoio necessário na Bahia para ganhar no primeiro turno.

“Tenho escritórios de advocacia por todo o Nordeste: Recife, João Pessoa, Natal, Fortaleza, Salvador. Em todos os lugares eu percebo um apoio muito forte nas ruas”, completa o advogado Antonio de Rueda, parte do núcleo forte bolsonarista.

Para todos eles, a grande influência do PT na região faz com que eleitores de Bolsonaro tenham medo de manifestarem sua opção pelo candidato publicamente. Haveria, assim, uma grande massa de votos nordestinos “escondidos” para o candidato do PSL, que se revelariam somente no dia da eleição.

Pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta-feira (20) mostra Bolsonaro com 28% das intenções de voto, seguido por Fernando Haddad (PT), com 16%, Ciro Gomes (PDT), 13%, Geraldo Alckmin (PSDB), 9%, e Marina Silva (Rede), 7%.

O Nordeste é a região em que Bolsonaro tem seu pior desempenho, atrás de Haddad (26%) e empatado com Ciro Gomes, com 17% das intenções de voto. É a única na qual ele não lidera.

No Sul, no Sudeste e no Centro Oeste, o candidato abre larga vantagem sobre os demais. No Sul, conta com 37% das intenções contra 10% de Haddad e Álvaro Dias (Pode). No Sudeste, tem 30% ante 13% do petista. No Centro Oeste, alcança 36%, o triplo em relação ao ex-prefeito de São Paulo.

Além de investir forças no Nordeste, os bolsonaristas têm outra estratégia complementar para tentar resolver a eleição no dia 7 de outubro e evitar o segundo turno: apelar ao voto útil. O plano passa a ser, então, convencer eleitores de Álvaro Dias, Henrique Meirelles (MDB), João Amôedo (Novo) ou Alckmin de que são a única alternativa viável para evitar a volta do PT à Presidência. Os discursos nesse sentido já começaram a ser feitos.

“Os eleitores deles já perceberam a importância de dar um voto no primeiro turno em Bolsonaro para evitar que a gente volte a ter qualquer risco do câncer chamado PT voltar a comandar o país. Estamos a um Amoêdo de ganhar a eleição no primeiro turno, tenho certeza”, diz Flávio Bolsonaro, candidato ao Senado no Rio. “A facada no meu pai fez com que as pessoas adiantassem a escolha delas. O eleitor costuma deixar para escolher mais em cima da hora.”

“Só não digo que estamos a um Alckmin de vencer porque ele é muito ‘pequenininho’, quase não tem voto”, completa, provocando gargalhadas nos aliados presentes.

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