Desaceleração da Economia Norte-Americana sob Trump: Desafios e Oportunidades Redação 6 de outubro de 2025 Destaque, Notícias, Política, ultimas notícias, ÚLTIMAS NOTÍCIAS A economia dos Estados Unidos perdeu ímpeto sob a presidência de Donald Trump, mas o mercado de trabalho ainda demonstra alguma resiliência, em parte devido à disrupção na oferta de mão de obra causada por políticas de imigração.Após um crescimento de 2,8% em 2024, o Produto Interno Bruto (PIB) deve desacelerar para 1,8% em 2025, conforme previsões de mercado e órgãos internacionais. Antes da posse de Trump e da imposição de tarifas, as expectativas eram de um crescimento de até 3%.Essa perda de ritmo na maior economia do mundo, avaliada em US$ 29,2 trilhões, ocorre em meio a pressões inflacionárias persistentes, especialmente no setor de serviços, que representa quase 80% do PIB. Em agosto, a inflação geral anual foi de 2,9%, enquanto os serviços (exceto energia) apresentaram uma inflação de 3,6% e o setor de alimentos, 3,2%. O Federal Reserve (Fed) busca uma meta de 2% ao ano.A questão central atualmente não é apenas quando a inflação cairá, mas se ela poderá subir novamente antes que o crescimento desacelere de forma decisiva. Isso pode comprometer a intenção do Fed de continuar reduzindo as taxas de juros até 2026. Em setembro, a taxa foi cortada em 0,25 pontos, para uma faixa entre 4% e 4,25% anuais, mas Trump pressiona o Fed para acelerar esses cortes.As políticas agressivas de Trump, como tarifas e a repressão à imigração, estão diretamente relacionadas ao clima de incerteza. Kenneth Rogoff, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, observa que muitas empresas têm reduzido suas margens de lucro para absorver o impacto das tarifas, mas isso tem um limite. Ele alerta que, com o tempo, as empresas começarão a repassar custos, o que poderá elevar a inflação para 3,5% ou 4% até o final do ano.Enquanto o choque tarifário encarece produtos e matérias-primas importados, a repressão à imigração reduz a oferta de mão de obra, distorcendo o mercado de trabalho. Segundo o Fed regional de São Francisco, os EUA terão um saldo positivo líquido de apenas 1 milhão de imigrantes neste ano, uma queda de 1,6 a 2,6 milhões em relação a 2024 e 2023. Entre 2022 e 2024, os imigrantes foram responsáveis por mais da metade dos novos trabalhadores.Essa diminuição na oferta de trabalho cria uma ilusão de um mercado laboral aquecido, mas o que falta são pessoas para preencher vagas, especialmente em estados dependentes de imigrantes, como Califórnia, Texas, Flórida e Nova York. Nesses estados, a taxa de desemprego é menor do que em outros menos dependentes da imigração, e enquanto o aumento salarial diminui em nível nacional, acelera nas regiões que dependem mais dos imigrantes.Marcello Estevão, diretor-gerente do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), destaca que essa fragmentação requer cautela na interpretação dos dados nacionais, pois a taxa de desemprego geral (4,3% em agosto) pode indicar um mercado de trabalho mais frágil do que parece. Ele acredita que a fraqueza no emprego e no crescimento deste ano exigirá disciplina na formação de preços.José Júlio Senna, ex-diretor do Banco Central e pesquisador do Ibre-FGV, concorda que a inflação permanece pressionada, o que pode complicar os planos do Fed de cortar juros. Ele observa que um dos principais indicadores que o banco central dos EUA monitora são as Vendas Finais para Compradores Domésticos, que refletem gastos e investimentos de residentes e empresas.Apesar dos desafios de curto prazo, a economia dos EUA ainda apresenta vantagens estruturais. Neste ano, o trabalhador americano médio deve gerar cerca de US$ 171 mil em produção, comparado a US$ 120 mil na zona do euro e US$ 96 mil no Japão. Mesmo com a expectativa de crescimento mais lento, o mercado de ações continua a bater recordes, embora isso possa ser distorcido pela valorização das empresas de tecnologia, que hoje valem mais do que as bolsas de valores do Reino Unido, Canadá, Alemanha e Japão juntas.