Horas após a vitória de Jair Bolsonaro (PSL) na disputa presidencial, um de seus principais aliados, o senador Magno Malta (PR-ES), disse que o governo deverá começar ainda em janeiro a se articular para conseguir facilitar a posse de armas de fogo, uma das promessas de campanha do então candidato.

Levantamento do Datafolha realizado entre os dias 24 e 25 de outubro mostra, no entanto, que dessa forma o novo presidente poderá começar o mandato com uma medida potencialmente impopular.

Segundo a pesquisa, 55% das pessoas consultadas dizem acreditar que a posse de armas deve ser proibida, pois representa ameaça à vida de outras pessoas. Para 41%, a arma legalizada deveria ser um direito do cidadão para se defender. Outros 4% disseram não saber.

Em seu programa de governo, Bolsonaro defende que a possibilidade de se armar garante o direito do cidadão à legítima defesa “sua, de seus familiares, de sua propriedade e a de terceiros”.

“As armas são instrumentos, objetos inertes, que podem ser utilizadas para matar ou para salvar vidas. Isso depende de quem as está segurando: pessoas boas ou más. Um martelo não prega e uma faca não corta sem uma pessoa”, afirma o documento com as propostas do presidenciável registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Em entrevistas, Bolsonaro diferenciou porte de posse de armas. Ele defendeu a jornalistas da RedeTV! a autorização para posse de armas a cidadão a partir de 21 anos, cumprindo pré-requisitos como exame psicológico, capacidade de manuseio e residência. O porte, por sua vez, poderia ser permitido a, por exemplo, vigilantes e caminhoneiros, desde que submetidos a testes.

Os homens que foram consultados para o levantamento do Datafolha mostraram-se divididos: 50% defendem que a posse deve ser legalizada, e 48%, que precisa ser proibida.

Entre as mulheres, 63% acreditam que as armas devam ser proibidas, ante 32% que preferem vê-las liberadas.

Na região Sudeste, onde Bolsonaro recebeu 28,3 milhões de seus votos (o que corresponde a 49,2% da votação que recebeu), 57% preferem que as armas sejam proibidas. No Nordeste, onde o concorrente Fernando Haddad (PT) foi melhor (com 22,3 milhões de votos, 47,3% de seu total), o índice é maior, 65%.

Em contrapartida, no Sul, região na qual Bolsonaro teve maior vantagem sobre o concorrente, com 68,3% dos votos ante 31,7%, é onde o apoio à posse de armas se mostra mais forte (58%).

Nas capitais dos maiores colégios eleitorais, locais nos quais Bolsonaro teve vantagem expressiva, a rejeição às armas de fogo fica acima da média total. Em São Paulo (64%), Rio de Janeiro (61%) e Belo Horizonte (59%), as pessoas preferem a proibição das armas. Nas três capitais o capitão reformado do Exército venceu Haddad: em São Paulo, teve 60,4% dos votos válidos; no Rio, 66,4%; e em Belo Horizonte, 65,6%.

À época do levantamento, dois em cada três (67%) eleitores que declararam voto em Bolsonaro disseram acreditar que a posse de armas deveria ser legalizada, e para 29% deles, deveria ser proibida.

Entre os que disseram que votariam em Haddad, 83% manifestaram-se contrariamente à liberação das armas, e 14%, a favor.

A rejeição ao direito de se armar vem caindo nos últimos anos. Em pesquisa do Datafolha realizada em setembro deste ano, 58% avaliavam que armas deveriam ser proibidas e 40% que deveriam ser liberadas. Em novembro de 2013, quando o instituto propôs o tema em seu questionário pela primeira vez, 68% apoiavam a proibição de armas e 30% se colocavam a favor da liberação.

A sondagem do Datafolha é um levantamento por amostragem estratificada por sexo e idade com sorteio aleatório dos entrevistados. Foram entrevistados 9.173 eleitores, com 16 anos ou mais, em 341 municípios do país nos dias 24 e 25 de outubro de 2018. A margem de erro máxima é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%. A pesquisa foi contratada pela Folha e pela TV Globo e está registrada no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) com o número BR-05743/2018.

ACEITAÇÃO DA HOMOSSEXUALIDADE
O instituto de pesquisas também ouviu eleitores sobre a aceitação da homossexualidade.

Ao longo dos anos, Bolsonaro propagou discurso de ataques a minorias, e frequentemente com homossexuais como alvo. Mais recentemente, tem moderado o discurso e chegou a dizer que “os gays serão felizes” em seu governo.

Um dos temas discutidos na campanha foi o chamado “kit gay” –como Bolsonaro apelidou o projeto Escola contra a Homofobia, que Haddad tentou implementar em sua gestão no Ministério da Educação. O material não chegou a ser distribuído nas escolas.

Grupos de WhatsApp de apoio ao candidato do PSL e contrários ao petista compartilharam informações falsas sobre o chamado “kit gay”.

Caso o presidente eleito decida retomar a retórica agressiva contra os homossexuais, ele deverá encontrar resistência.

Para 74% dos entrevistados na pesquisa do Datafolha, a homossexualidade deve ser aceita por toda a sociedade. Outros 18% pensam que a homossexualidade deve ser desencorajada por toda a sociedade. Há ainda 8% que não opinaram sobre o tema.

A maioria daqueles que à época da pesquisa se declaravam eleitores de Bolsonaro, segundo o instituto, pensa que a homossexualidade deve ser aceita: 67% deles defenderam essa ideia, e 25%, desencorajaram. Entre eleitores de Haddad, esses índices são, respectivamente, de 83% e 10%.

O Sul é a região em que mais pessoas disseram acreditar que a homossexualidade deve ser aceita por todos, com 80%. O Norte tem o índice mais baixo, com 65%.

A defesa da aceitação da homossexualidade é mais forte entre os mais jovens (84% entre aqueles que têm entre 16 e 24 anos); os mais escolarizados (82% entre os que fizeram ensino superior); e os mais ricos (82% entre aqueles que recebem mais de dez salários mínimos).

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